segunda-feira, 29 de junho de 2009

O que vale é o busão

Acordo as cinco, chego ao aeroporto as seis, voo as sete, chego ao Rio as nove, me enrolo um pouco, decido conhecer o Rio, pego um táxi-guia, em três horas com meu novo amigo Marcelo vejo a casa do Roberto Carlos, a casa do Roberto Marinho, nenhuma outra casa de nenhum outro Roberto, Copacabana e o Copacabana Palace, Leblon, Ipanema, Urca e o Morro da Urca, várias favelas, a maioria de longe, o aterro do Flamengo, o Maracanã, o lugar onde o Ronaldo (me recuso a dizer, o Fenômeno) começou sua carreira, o mirante de Santa Marta, o Jardim Botânico (bem de longe), o Cristo (mais de longe ainda), o Pão de Açúcar, o Pinel, a Lagoa Rodrigo de Freitas, as casa de praia de D. Pedro e da Princesa Isabel, a praia do Botafogo, a praça da Apoteose, a passarela do samba, o aeroporto Santos Dummont e o Tom Jobim, a ponte Rio - Niterói, a ilha do governador, a linha vermelha, a igreja da Candelária, quatro ou cinco caveirões e o simpático pessoal do Bope, a floresta da Tijuca, a central do Brasil, as sedes do Vasco, do Fluminense e do Botafogo, chego novamente no aeroporto, faço o check-in, embarco, quase dez horas de voo e estou em Paris, chego no hotel de táxi, deixo a mala no maleiro eletrônico e saio até a torre Eiffel, mais por não ter destino definido, beiro o Sena até a Notre Dame, no caminho paro em uma aglomeração popular, bem depois descubro que é o Obama indo embora e espero para ver, vejo, procuro a livraria Shakespeare and Co., compro um livro do Dylan ilustrado para o meu pequeno e toco Hey Jude no piano que serve de expositor para os livros relacionados à música, na rua compro um Camus para um amigo, em francês que é para judiar do amigo, almoço no restaurante que tinha almoçado com minha querida da última vez, tomo um sorvete de sobremesa no lugar onde tinha tomado um sorvete com minha querida da última vez, ando mais um pouco e pego o metrô, volto para o hotel e empacoto na cama até a hora da janta, acordo às 22 duas e ainda é dia, janto com o sol, durmo novamente e acordo para trabalhar, três dias na mesma rotina, acordo, me arrumo, tomo café-da-manhã, metrô até a estação perto da casa da amiga, carona até o trabalho, reunião atrás de reunião, carona com a amiga até o metrô perto da casa dela, hotel, janta e sono, com exceção do último dia que teve, hotel, diária extra para tomar um banho e me arrumar para a viagem de volta, táxi, aeroporto, check-in, voo de 11 horas para São Paulo, espera de 2 horas, voo de 47 minutos para Curitiba.

Na chegada, rodoviária para pegar um busão até minha cidade natal. Como era hora do almoço e meu estômago tem uma adaptação exemplar ao fuso horário local, procurei um restaurante para almoçar. Jóia. Esse era o nome do restaurante. O prato do dia, bife à milanesa com arroz, feijão, salada e fritas. Se tivesse um ovo frito escorrendo amarelo em cima do feijão seria perfeito. Foi quase perfeito. Depois de mais de 22 horas de voo, 27 de trabalhos intensos, seis descias ao metrô e alguns quilômetros de pernada em Paris e uma visita relâmpago ao Rio de Janeiro, veja aonde vim parar. Onde tudo começou. Meu lugar preferido da semana quando estudava para ser engenheiro. O marco zero de todos os finais de semana com a família, os amigos e as paqueras (o plural aqui é exagerado). A rodoviária de Curitiba. Um lugar feio, fedido, perigoso e sem graça, mas que para mim significava todas as possibilidades de uma idade em que possibilidade é tudo o que se pode ter.