segunda-feira, 7 de abril de 2008

Córdoba - Paris

Agora sim a coisa esquentou, duas viagens coladas, com um final de semana em casa. Claro que o final de semana em casa é ótimo, mas sair no Domingo à noite logo após ter chegado sexta de madrugada não é muito gostoso.


A primeira parte foi para a Argentina, mais especificamente Córdoba. Não dá para dizer que foi desta vez que conheci algo da Argentina, pois cheguei em Córdoba aproximadamente às 3 horas da madrugada de quinta e saí exatamente às 17 horas da sexta. De curioso da minha chegada a Córdoba só posso dizer que tive muito azar com os taxistas, tanto de casa até o aeroporto em Curitiba, quanto do aeroporto até o hotel em Córdoba. O primeiro resolveu cortar caminho, sem me consultar, pelo meio da favela da Vila Pinto. O segundo resolveu que já estava muito tarde e nós deveríamos chegar ao hotel o quanto antes possível, fazendo do limite de velocidade estampado nas placas, mera decoração rodoviária. Antes que eu esqueça, estava com um colega de trabalho francês nesta segunda corrida.


A única coisa notável desta viagem, além é claro do trabalho muito produtivo, foi um passeio que o pessoal do trabalho nos deu o privilégio de organizar. Fomos de carro circulando um enorme lago artificial que abastece a cidade de Córdoba. Este lago foi construído durante os governos militares dos anos 70 na Argentina, assim como outros 3 ou 4 que existem na região. A obra é de ma grandiosidade e beleza notáveis. No meio do caminho passamos pelo monumento que define o centro geográfico da Argentina, o que não tem absolutamente nada demais. Tirei uma foto. Paramos em uma cidade chamada Carlos Paz, pequena e turística, com um calçadão muito simpático onde comprei alfajor caseiro e tomamos uma cerveja antes de voltar para o hotel. Mais um dia de trabalho e voltaria para casa. Foi exatamente o que aconteceu, e assim foi minha insignificante estada em território Argentino. Desta vez não tenho uma lista de curiosidades, como já de costume, a não ser o fato de que no restaurante da empresa existem vários fornos de microondas espalhados para que o povo possa esquentar sua comida. Isso é que é honestidade.”Caros colaboradores, admitimos nossa incapacidade de servir comida quentinha para esse bando de gente, por isso, pensando na motivação e no bem estar de nosso maior patrimônio, vocês, estamos instalando luxuosos fornos de microondas para o caso de desejarem esquentar seus pratos de comida. Aproveitamos para informar que pipoca não. Só em jogo de copa, e só se for contra o Brasil.”


Estava em casa novamente, curtindo o Sabadão com minha esposa. Aliás, estava uma delícia. Fizemos de tudo um pouco.


Hoje, Domingo dia 06 de abril, fomos até o aeroporto para que eu pegasse o vôo para São Paulo, com destino final Paris. Logo após o check-in fui chamado no sistema de auto-falantes do aeroporto. Confesso que fiquei meio feliz, pois foi a primeira vez que tive a honra de escutar meu próprio nome desta maneira. A alegria aumentou quando descobri que o vôo que sairia de Paris para São Paulo foi cancelado e que eu seria realocado em um vôo saindo do Rio de Janeiro, bem mais tarde que o primeiro. Ótimo, tinha mais um tempão para passear com a Tati. Deu até para passar em casa tomar mais um banho antes de embarcar. Chegando novamente no aeroporto de Curitiba, como já havia feito o check-in, entrei direto na sala de embarque. Sentei e comecei a ler um livro que já estava há tempo na fila. O livro começou tão interessante que nem reparei que estava sentado ao lado do Chico Anysio e sua equipe, que tinham vindo para Curitiba fazer um show privado para algum abastado da região. O Chico estava numa cadeira de rodas, coisa que me deixou um pouco triste. Não que eu seja um fã, sequer um admirador, mas é chato ver personagens com os quais você cresceu acostumado a ver na televisão numa situação destas. De qualquer maneira ele e a equipe foram muito simpáticos, especialmente quando meu celular tocou. Como tenho no celular o toque de telefone por IP, imortalizado no seriado 24 horas, um dos assistentes do Chico, obviamente fã do seriado, foi à loucura. Ativamos nossos blue-tooth e em questão de minutos estavam todos brincando de agentes da CTU. Todos eles tem a música do filme Missão Impossível para quando o Chico os chama. Não quis entrar em detalhes. Minutos antes do check-in abrir, chamaram Chico e sua equipe, que em agradecimento ao toque de celular gentilmente cedido, me levou junto para dentro do avião. Uma hora depois estava em solo carioca, com uma despedida ainda mais simpática da equipe do Chico. Já saí do avião com apelido, obviamente relacionado à minha cara de terrorista árabe e suas previsíveis relações com o famoso seriado de Jack Bauer. Comecei bem.


O vôo para Paris foi muito tranqüilo, com certeza o vôo transatlântico menos turbulento que eu já fiz até hoje. Como partimos bastante atrasados e Paris nesta época está 5 horas à frente do Brasil, cheguei já no final da tarde. Fiz o check-in no mesmo hotel que a Tati ficou em Janeiro e sai passear um pouco. Estamos no começo de Abril e o dia já dura muito mais do que em Janeiro. Neste primeiro dia, teve luz do sol até umas 8 da noite. Apesar disto, o frio continua muito parecido com o da última viagem no início do ano. O vento que bate de frente para quem está descendo a Champs-Elysées em direção ao Louvre ainda é insuportável. Andei umas duas horas, tirei mais um zilhão de fotos da Torre Eiffel e fui dormir.


O primeiro dia de trabalho foi longo e cansativo. Apesar da tentativa de todos de falar em inglês, a boa vontade durou pouco e a maioria das discussões aconteceram em francês, o que me exigiu o suficiente para disparar uma dor de cabeça. No final da jornada fomos a um restaurante muito simpático, perto do centro tecnológico da Renault, onde estivemos trabalhando neste primeiro dia. O vinho já estava aberto na mesa e a entrada servida. Comi muito pão com patê de porco, pois estava com uma fome danada. O primeiro prato foi uma salada deliciosa com vários tipos de carne de pato em pedaços. Tinha magré, fois-gras e outra coisa que não consegui decifrar. Muito bom. O prato principal, adivinhem, era pato, o famoso Confit de Canard. Uma delícia, como sempre. Bebi muito vinho, o suficiente para passar a dor de cabeça que já estava começando a me incomodar. Peguei carona até Paris com um dos meus colegas de trabalho, que bondosamente fez um belo tour de carro pela avenida que contorna as margens do rio Sena. O cara estava animado e até propôs continuarmos a noite, mas já era tarde e este tipo de esticada não é comigo. Fui para o hotel e dormi.


Neste segundo dia de trabalho as coisas foram mais leves. Na verdade foi apenas uma convenção de logística que aconteceu pela manhã nos arredores da matriz da Renault em Paris. Consegui entender 4,3% do que foi dito, o que significa que meu francês está melhorando consideravelmente. Estou deveras orgulhoso de mim. Parabéns. Encontrei o chefão Ghosn pela segunda vez. Sai pouco depois do meio-dia, peguei o metrô e voltei para o hotel buscar a mala que havia deixado na portaria. Antes de chegar no hotel comprei uns produtos anti-alguma-coisa que minha esposa encomendou. Pela primeira vez na vida consegui pegar um táxi com um motorista estrante. Hoje é o primeiro dia dele e até que ele se saiu muito bem até a estação St. Lazare, onde peguei este trem que agora me leva para Rouen. Ih, a casa caiu, ou como não diriam por aqui, la maison tombé, a bateria está acabando e tenho que ir. Volto amanhã.


Amanhã já é hoje, portanto voltei. Mas voltei para falar de ontem, que quando ainda era hoje a bateria tinha acabado e não consegui terminar. Holly crap, esta foi de lascar. Bom, chegando em Rouen peguei um táxi até a catedral, que ao contrário da outra vez consegui ver com calma e com a luz do dia. Andei bastante pelas redondezas, tirei várias fotos, comprei chocolates no Larmes de Jeanne D'Arc e um delicioso queijo regional em uma loja do mercado ao ar livre que eles têm por aqui. Tudo isso arrastando minha mala de rodinhas pela calçada e atrapalhando a calma que predomina em Rouen. No final da andança, entrei no museu Flaubert. O museu é, como de costume, na casa onde Flaubert nasceu, e tem muito pouco sobre Flaubert. Na verdade é mais um museu da história da medicina do que sobre o famoso escritor de Madamme Bovarie. Não gastei 20 minutos no lugar e peguei um táxi para o hotel em Grand Couronne.


Em termos turísticos esta foi de longe a melhor parte da viagem. O hotel Bellevue que, como o nome indica, tem uma vista incrível do rio Sena, fica perto de Grand Couronne, uns 5 quilômetros depois da entrada para a Renault. Além da bela vista, o hotel fica em um pequeno vilarejo, daqueles típicos do interior da França. Apesar do frio, andei um pouco pelas redondezas do hotel. Na volta, após um breve descanso, me encontrei com alguns amigos de trabalho para o aguardado jantar no próprio hotel, que tem um dos melhores restaurantes da região. Como era de se esperar, o jantar foi fantástico. O Vincent, um dos colegas de trabalho, fez questão de pedir os meus pratos. Fui na onda e não me arrependi. Para começar, uma sopa de peixes (Soupe de Poisson, com pain a l'ail, queijo gruyère e molho rouville) como eu nunca havia experimentado antes. E olhe que de sopa de peixe eu conheço um pouco. De prato principal, cérebro de bezerro (tete de veau com molho gribiche), que se assusta no conceito, surpreende no sabor. Estava realmente delicioso. No final, é claro, 3 tipos de queijos da região, Pont L'evèque, Neufchatel e o Camembert. Tudo isto foi acompanhado por uma bela garrafa de Bordeaux que o Vincent escolheu. Um Chateu Pontac Lynch, cru Bourgeois, AOC Margaux. Quase nada do que escrevi neste parágrafo é do meu domínio, só copei o que escreveram para mim em um guardanapo do restaurante para não esquecer da próxima vez. Amanhã é o último dia.


Hoje de manhã fazia um frio de 0 graus. Não vamos esquecer que estamos na primavera francesa. Apesar disto, o sol bate forte lá fora, pelo menos por enquanto. É dia de voltar para casa, que é sempre um dia bom. Do ponto de vista de trabalho, a coisa não está muito boa. Para se ter uma idéia, estou descrevendo estas aventuras no meio de uma reunião muito importante, que eu deveria estar participando ativamente se não fosse por um pequeno detalhe. Abandonaram o inglês. No primeiro dia até que tentaram um pouco, mas agora já era, não estou entendendo nada. Tentei algumas vezes, com ajuda do Jean-Louis e do Vincent, mas o pessoal não quer saber, é em francês e ponto. Até entendo os assuntos maiores e a direção que a conversa vai, mas estou perdendo muitos detalhes importantes. Daqui a pouco é minha vez de apresentar os resultados de Curitiba. Vou me vingar falando tudo em português. E com sotaque nordestino, só de raiva. A boa notícia, é claro, vem da culinária. Almoçamos no restaurante da associação da Renault de Grand Couronne. Foi mais um coquetel do que um almoço, onde foi servido desde fois gras até scargot. De sobremesa, vários doces, entre eles, creme brulée e macarron. Vinho e champagne o tempo todo. Sem comentários.


Daqui a pouco saio para o aeroporto para voltar para casa. Acho que só volto para cá quando estiver falando bem o francês, ou quando for uma missão solo. Assim paro de ganhar peso à toa. Se bem que ...

Um comentário:

Tatiana Pellissari Acras disse...

Acho que vc está se especializando mesmo é na culinária francesa né?
Nada mal!!