quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Je ne parle pas Français / No hablo muy buen español - uma aventura profissio-gastro-eno-turística na França e na Colômbia

A primeira hora e meia de vôo foi bem turbulenta. Nada demais, mas fiquei preocupado com a Tati, que já estava meio desesperada. Lá íamos nós mais uma vez. Pouco mais de quatro meses depois de voltarmos de Nova Iorque, embarcamos para uma viagem de duas semanas à França. Eu a trabalho, a Tati para estudar francês.

Descemos em Paris no dia 20 de janeiro de 2008, um Domingo não tão frio para a época. Fazia 12 graus, sem sol mas também sem chuva. Desta vez abrimos mão do conforto do táxi e resolvemos arriscar o ônibus da Air France, que se mostrou muito eficiente. Descemos no centro, e com um táxi rápido estávamos no hotel onde a Tati vai passar estas duas semanas. Hoje já é terça-feira, dia 22 e eu estou em um intervalo do trabalho no centro de exportação da Renault em Rouen.

Voltando ao dia 20, tentamos conseguir um quarto antes da hora do check-in, mas não funcionou. Era perto das 10 da manhã, deixamos as malas na recepção e saímos por Paris. Paramos rapidamente em um café do outro lado da rua, tomamos nossos au lait com croissants e fomos aprender como chegar na escola onde a Tati iniciaria os estudos de francês no dia seguinte. Foi um passeio diferente, pois estávamos ao mesmo tempo muito felizes de estar em Paris e meio anestesiados por não termos dormido no avião, como de praxe. Descemos em uma estação não muito distante da escola, mas levamos mais de 40 minutos para chegar lá, um pouco porque estávamos perdidos e um pouco porque paramos em alguns lugares. Um deles, é claro, o primeiro Starbucks da viagem. Não lembro se foi nesse momento, ou um pouco antes, mas consegui registrar um belo (e já tradicional) pulinho de alegria da Tati. Eu adoro estes pulinhos, mas isso não é novidade. Achamos a escola, que fica em uma das radiais de uma praça bem simpática, que agora não lembro o nome. Tudo certo, a Tati não teria mais desculpa para se perder.

Como no caminho para a escola tínhamos avistado o arco do triunfo, resolvemos andar até lá. É muito bacana vê-lo de ângulos diferentes. Eu já estivera em Paris duas vezes antes dessa e só tinha visto o arcão de frente, pela Champs-Elysées do lado direito. Desta vez, como estávamos vindo de uma das ruas laterais, tivemos a chance de ver todos os ângulos da porta de entrada de Napoleão à Paris, construido para festejar suas vitórias de guerra e por onde, ironicamente, ele só passou depois de morto, dentro de seu pomposo féretro.

Fomos andando pela avenida mais famosa (e cara) de Paris e talvez do mundo até a Place de Tuilieres, onde finalmente almoçamos em um restaurante muito simpático. Com a imaginação a toda, e a fome maior ainda, pedimos o mesmo prato, sem pensar muito. Era um corte de gado com batatas fritas e manteiga de ervas finas. Como é bom poder comer carne de gado na França. Da última vez que estivemos aqui, em 2001, a doença da vaca-louca era moda, nos forçando a uma dieta sem carne de gado. Andamos mais um pouco até o Louvre, mas não entramos no museu. Pode ser bobagem, mas eu estava louco para ver as pirâmides do Louvre depois de ler o Código DaVinci. Aliás, DaVinci é o nome da rua onde a escola da Tati está localizada.

Agora estávamos oficialmente acabados. Achamos o metrô mais próximo e voltamos para o hotel. Não fiquei mais do que meia-hora antes de partir para a estação de trem St. Lazare, donde partiria para Rouen um pouco mais tarde. Assim como na Inglaterra, o sistema ferroviário de passageiros na França é muito bom. Com muita facilidade, mesmo não falando francês, consegui comprar a passagem e entrar no trem correto. Uma hora e meia mais tarde estava chegando na estação de Rouen. Estou hospedado no Ibis da margem direita do rio Sena, que atravessa Rouen. Como estava há mais de 40 horas sem dormir, jantei no próprio hotel e capotei. Eram umas oito horas da noite quando dormi, mas antes tive a chance de provar um prato muito bom, com pato preparado de três maneiras diferentes, a saber, peito de pato na grelha, presunto defumado de pato e uma terrine de pato. Tudo muito bom, ainda mais acompanhado por uma taça de Bordeaux, dos mais simples, mas muito eficiente. Como diria um amigo meu, dormi como uma pedra (acho que já usei esta referência antes mas, como dizem por aqui, voilá, que aliás, percebi agora, se parece muito com o nosso “vai lá”. Tá bom eu paro.)


Na segunda-feira, dia 21, acabei acordando mais cedo do que o necessário, quando percebi que a luz do meu quarto havia sido cortada. Apesar das insistências com o pessoal do hotel, não consegui com que o problema fosse resolvido a tempo, de maneira que tive que me arrumar sem luz. Sem problemas pois chegaria mais tarde na Renault, uma vez que a locadora de veículos só abriria às nove da manhã. Petit dejeuner, táxi até a locadora (que fica na mesma estação de trem na qual cheguei em Rouen) e estava com o carro em mãos. Levei um bom tempo estudando o GPS antes de sair da garagem, pois não querida me distrair ao volante. Não adiantou nada. Até consegui programar razoavelmente bem o aparelhinho, apesar do fato de que, na primeira curva que eu deveria fazer, ele começou a falar comigo em Holandês, com uma voz feminina nada amigável. Mais alguns pequenos ajustes e estava no caminho para Gran-Couronne, a pequena vila onde fica localizado o centro de exportação da Renault na França.

Passei o dia trabalhando por aqui. A recepção foi muito gentil e todo o pessoal pareceu muito disponível e simpático. Não vou entrar em detalhes, pois este é um diário de viagem e não de trabalho, mas todas as pessoas por aqui parecem muito felizes e motivadas com o trabalho, desde a gerência até o pessoal do chão-de-fábrica, expressão interessante pois não estamos em uma fábrica. Almocei por aqui mesmo, com minha hostess, a Catherine. O almoço é bom, principalmente porque se tem queijos ótimos à disposição e, é claro, algumas opções de vinho. O resto não é grandes coisas, mas quem se importa.

Terminado o primeiro dia de trabalho, voltei para o hotel. Não sem antes sofrer um pouquinho mais com o GPS e pegar um engarrafamento digno de nota. Levei uns 50 minutos para andar 20 Km. Me informei no hotel sobre um bom restaurante e saí. Andei pelo centro histórico de Rouen, que é bem interessante. Duas das figuras que marcam a história da cidade são Flaubert e Joanna D'Arc. O primeiro tem um museu enorme junto ao palácio do governo da Alta-Normandia, região da França da qual Rouen é a capital. Uma boa parte do clássico Madame Bovary é inspirada em Rouen. A segunda dispensa maiores comentários e foi aqui em Rouen que a executaram queimada na fogueira dos hereges. A ela também é dedicado um belo museu, menor que o de Flaubert, mas igualmente rico em detalhes históricos. A poucos metros do museu, o restaurante que tem o mesmo nome da praça onde estão localizados vários outros, além de cafés, boulangeries e lojas de doces. Le Vieux Marchant é o nome do lugar. Não acertei muito ao escolher o prato principal, que não estava ruim, mas não empolgou. Confit de Canard com uma salada de folhas verdes. Por outro lado, acertei em cheio na sobremesa, um Créme Brulée de primeiríssima seguido de um prato de Camembert com uma taça de um vinho qualquer que quebrou um bom galho. Achei que a conta viria salgada, o que faltou no pato. Acertei.


Esta noite dormi melhor e, como só tinha compromisso às nove da manhã, resolvi enrolar um pouco no hotel. Hoje é dia 22 de janeiro, um pouco mais frio do que Domingo e ontem, uns 8 graus, e só agora consegui começar escrever alguma coisa sobre estes dois e meio primeiros dias. Hoje, além do trabalho, não aconteceu nada demais. A exceção foi o jantar no hotel, que estava excelente. Comi um prato típico chamado coq au vin, algo como (os franceses que me desculpem) frango no vinho tinto. A tradução literal seria galo ao vinho. Independente do que fosse, estava muito bem preparado, com o molho combinando perfeitamente com a taça de Chotes du Rône que eu pedi para acompanhar. No final um belo prato de queijos, sem sobremesa desta vez. Tudo certo para mais uma bela noite de sono.


Este dia 23 foi um dia agitado no trabalho, com bastante reuniões produtivas, que obviamente não vou detalhar aqui, afinal, você não é meu chefe, a não ser que meu chefe esteja lendo este texto. Neste caso posso afirmar que estou trabalhando bastante por aqui chefe, fique tranqüilo viu? Na volta preparo um belo relatório de viagem.

Em dias de trabalho só posso falar do almoço, da janta e de eventuais passeios noturnos. Bom, vamos lá. O almoço de hoje foi na Renault, mas não no restaurante comum. Foi em uma associação de funcionários que, segundo meu guia, o senhor Chazal, existe em todas as unidades da Renault. Basicamente é um restaurante mais sofisticado, não tão perto do agito do trabalho e com serviço diferenciado. Imagino que o preço também deva ser, mas me fiz de bobo e não pus a mão no bolso. Nem poderia, pois o Guillaume já tinha um cartão com minha refeição paga. O prato de hoje chamava-se Ficelles Picardes, que é basicamente um crepe recheado de presunto defumado e cogumelos com molho branco. Por mais simples que seja a descrição do prato, sabor é indescritível. Segundo Guillaume, o prato é tipo da Normandia e muito apreciado por aqui. Entendo o porquê, principalmente acompanhado de uma garrafa de Domaine St. George D'Ibry, que eu não tenho a menor idéia de que tipo de vinho seja, mas é bom prá diabo. Como percebem, estou bebendo bastante por aqui (e trabalhando muito viu chefe!?!?!?) Já que estamos no departamento das bebidas, esqueci de mencionar que de entrada tomamos um kir de vinho branco com licor de rosas. É eu sei, é meio esquisito para não usar outros termos, mas até que é bom. Não preciso dizer que a tarde foi sonolenta, pois não estou acostumado a trabalhar depois de beber. Bom, como um bom profissional, faço de tudo para me adaptar à cultura local.

No final do dia dirigi até o hotel, guiado pela sempre amigável voz do GPS. Resolvi novamente andar pelas ruas de Rouen, o que se provou uma boa idéia. É uma pena que só consigo ver a cidade no escuro, mas pelo que tenho visto, vale a pena passar uns dois dias de férias por aqui. Muito lugar bacana, muita construção interessante dos tempos antigos (quando você é uma lástima em história usa a palavra “antigos” que fica tudo bem), enfim, uma típica e bela cidade européia antiga (percebeu o truque?) A janta foi boa, no mesmo Le Vieux Marchant de dois dias atrás, mas nada memorável para relatar. Deveria ter experimentado outro. Antes do restaurante entrei em uma simpática loja de vinhos. Com meu francês terrível consegui explicar o que eu queria, e fui gentilmente ajudado pelo dono da loja e uma cliente simpática que parecia entender bastante do assunto, mas esqueceu que eu não falava francês e disparou. Como ela saiu falando e nem se deu conta, deixei por isso mesmo. Garrafas na sacola, postais de Rouen no envelope, barriga cheia e zonzo do efeito cumulativo de tanto vinho, voltei para dormir. Não antes sem contar um pouco de mais este dia de aventuras gastro-alcoólicas moderadas e (presta atenção hein chefe) MUITO TRABALHO. A demain, se é que é assim que se escreve. Meu francês é uma merda, mas eu insisto.


Hoje, como não aconteceu absolutamente nada demais fora do trabalho, vou me concentrar na já tradicional lista de coisas interessantes do ambiente de trabalho do país visitado. Lá vai então:

  • No almoço, se você chega na mesa que já tem pessoas, deve cumprimentar com o tradicional aperto de mãos todo mundo.

  • O estacionamento para funcionários é do lado de fora da empresa.

  • Os sapatos de segurança são chiques. Existem modelos que parecem de festa e outros coloridos para as meninas. Quando você é visitante, como eu, tem a sua disposição um verdadeiro estoque, de todos os tipos, acompanhados de uma meia descartável para não enchulezar o sapato.

  • As máquinas de café são movidas a um pequeno cartucho com a mistura do seu gosto. É só colocá-lo na máquina que ela faz todo o resto e ainda o descarta no final.

  • Por incrível que pareça, aqui no escondido da França, pelo menos cinco pessoas falam português fluente na planta de Grand-Couronne. É mole?

  • Todo mundo cumprimenta todo mundo todos os dias. É falta de educação não fazê-lo. Quando o cumprimento envolve mulheres, existem os dois beijinhos no rosto, um em cada lado, bem sincronizado, como se fosse um ritual ensaiado. Bom, não deixa de ser.

Amanhã trabalho pouco e vou para Paris reencontrar a Tati. Não vejo a hora.


Mesmo com o francês esquelético que eu tenho, consegui me comunicar bem neste último dia de Grand-Couronne. Cheguei cedo no trabalho e depois de algumas horas conseguindo as últimas informações e de um almoço gostoso com a sub-diretora da planta, era hora de voltar a Paris. Consegui explicar para a moça do posto de gasolina que no Brasil existem frentistas, portanto, não tinha a menor idéia de como encher um tanque de combustível. Simpática, ela o fez para mim. Consegui também pedir informações sobre o estacionamento da locadora para devolver o carro e comprar a passagem de TGV para a mesma estação St. Lazare da qual havia partido no Domingo anterior. Cheguei a Paris no final do dia, mas como não havia uma nuvem no céu, depois de matar um pouco a saudades da Tati, saímos andar pela cidade. Andamos até a Torre Eiffel, onde tiramos várias e várias fotos, as mesmas que tiramos da última vez que estivemos por aqui, e da penúltima também. Mas não tem como resistir. Quando anoiteceu, resolvemos pegar um metrô até o hotel onde havíamos ficado quando noivamos em 2001, para matar a saudades daquela época. Fomos também comer no Hard Rock Café, como fizemos algumas vezes naquela viagem. Sessão nostalgia. Andamos bastante pelas redondezas, curtimos bastante o visual noturno da Ópera de Paris e acabados, voltamos para o hotel. Ou melhor, voltamos para para o HRC, pois a Tati havia esquecido sua bolsa na cadeira do restaurante, que por sorte ainda estava lá, pendurada na cadeira. O senhor que ocupava o lugar nem viu a Tati pegar a bolsa rapidinho. Agora sim, voltamos para o hotel.


Hoje já é dia 26, sábado. Tenho o final de semana livre em Paris com a Tati, e por isso aproveitamos bastante para passear pela cidade. Começamos o dia descendo na estação da prefeitura, que desemboca dentro de uma loja de departamentos enorme, onde a Tati comprou umas roupas de ultima hora para ajudar com o frio, que hoje está enorme. Andamos um pouco em volta do prédio e vimos os patinadores de gelo amadores se arriscarem na pista que é instalada todo inverno na frente desa que é uma das construções mais bacanas de Paris.

Continuamos a andança até chegarmos na lateral da igreja de Notre Dame. É um lugar realmente impressionante, e eu não lembrava mais de todos os detalhes bacanas da igreja. Os vitrais são muito legais, mas a frente da igreja é incomparável, com todas as estátuas dos reis que aparecem na bíblia e outros personagens curiosos. Circulamos a igreja e atravessamos a ponte para a Ille de St. Louis, uma pequenina ao lado da Ille de La Citè, onde está localizada a Notre Dame. Lá andamos pela rua principal, com várias lojinhas bem interessantes, uma delas de aspargos e foie gras artesenais, onde tinham várias reportagens de revistas de gastronomia do mundo todo, inclusive uma em português da nossa Gula. Almoçamos por ali mesmo, em um restaurante excelente, recomendado pelo guia Michelin, onde comemos uma carne de gado em molho escuro com purê de batatas acompanhado de um belíssimo Syrah. Na mesa ao lado conhecemos dois casais bem simpáticos de espanhois, que estavam passando o final de semana por aqui. É claro que deixamos de lado a sobremesa do restaurante pois estávamos ao lado da famosa casa de sorvetes Bertillon. Parece que desta vez estava ainda melhor. A Tati pediu pistache e chocolate, eu, chocolate e nuggat, gostei mais do de chocolate.

Com uma garrafa de vinho na cabeça, a barriga estufada e o sol direto nos olhos, a dor de cabeça era inevitável, mas durou pouco. Fomos andando até o Pantheon, uma construção gigantesca e muito bonita, usada para homenagear as grandes personalidades da França. Lá, além do pendulo de Focault e de várias estatuas e peças muito bonitas de tapeçaria, pode-se encontrar os túmulos de gente do porte do casal Curier, de Victor Hugo, de Alexandre Dumas, de Rousseau, entre vários outros. Realmente emocionante. Como estávamos no clima de funeral, decidimos andar até o cemitério de Montparnasse. Lá também encontramos algumas personalidades como Serge Gainsburg, o famoso compositor da mais conhecida música de motel já escrita. Também estava lá o grande matemático Poincaré, pai de um dos teoremas mais polêmicos e disputados da história recente da matemática. Além da presença de celebridades, o cemitério é muito bonito e bem cuidado. Um belo passeio para o fim de dia. Pegamos rapidinho um metrô para o hotel pois queríamos descansar um pouco antes do jantar.

Apesar de termos feito reserva no bistrô Balzar, não curtimos muito o cardápio. Andamos pela região e acabamos na frente da universidade de Sorbonne, numa praça muito simpática com fontes de água por todo o lado. Fazia um frio de cortar, o maior até agora. Entramos num lugar convidativo e acertamos na mosca. L'Écritoire é um lugar simples mas com o melhor atendimento que tivemos até agora na França, feito por apenas um garçom para todas as mesas. Eu comi foie gras de entrada e a Tati uma salada maravilhosa com queijo de cabra derretido. De prato principal comemos o mesmo, um Confit de Canard com um tempero simplesmente indescritível. Perfeito. Nem precisava dos queijos e do Créme Brulée que vieram em seguida. Mais uma vez com a cabeça cheia de vinho, desta vez um Bejoulais bem fresco, e a pança cheia, nos arrastamos até o hotel e dormimos quase que imediatamente. Acabei de acordar para o Domingo e resolvi escrever mais um pouco antes de sair. Mais tarde eu conto como será hoje, que promete. Au revoir.


Infelizmente não consegui cumprir minha promessa, hoje já é quarta-feira e só agora, no avião para a Colômbia que vou conseguir escrever sobre Domingo, Segunda e Terça. Vamos ver se eu lembro. Bom, o Domingo foi bem cansativo, mas não posso reclamar. Andamos o dia todo, das 10 da manhã até umas 5 da tarde. Fomos direto para a Sacre Coeur, onde como sempre tivemos que encarar uma subida considerável de degraus. O lugar estava muito cheio, mas apesar disso continua muito bonito. A praça dos artistas, ao lado da igreja, continua como nos lembrávamos e obviamente encaramos mais uma caricatura ridícula de nós dois, pela bagatela de 30 euros. O povo em torno se divertiu. Passamos um bom tempo por ali, dividimos um crepe com chocolate e descemos para o metro, donde partimos para Les Invalides. No caminho, dentro do centro cultural árabe da Síria, paramos para comer uma gostosa comida árabe. Era um pouco diferente da que estou acostumado, com o tabule bem azedo e a kafta mais temperada, mas mesmo assim estava muito bom. Os donos são Sírios e conheciam de nome a minha família, que é original do mesmo país. Quando pedi para ele uma nota do almoço, não sei a sério ou de gozação, ele escreveu o que comemo em um post-it de propaganda de remédio e me deu. Achei mais comodo não discutir.

Saímos para o Dôme, onde está o túmulo de Napoleão. Como podem ver, continuamos fixados em gente morta. De todos os lugares que já conheci em viagens, este é o mais bonito de todos. A grandiosidade deste lugar impressiona. Aliás, cumpre seu papel pois foi feita para impressionar. Além de Napoleão II, está aqui o primeiro e mais uma série de outras personalidades militares francesas. Para quem olha de fora, já é deslumbrante a visão da cúpula dourada que caracteriza o local e que pode ser vista ao longe, de quase qualquer ponto de Paris. Do lado de dentro o monumento não perde a força. Pelo contrário, as paredes e colunas de mármore com os túmulos enormes de pedra ou madeira são de tirar o fôlego. Passamos um bom tempo lá dentro, brigando com as duas máquinas de fotografia, uma que não segura a carga de nenhuma bateria que colocamos e a outra que não tira boas fotos em ambientes sem muita luz.

Saindo dali, passando pelo pavilhão onde ficam o museu das armas e o hotel dos inválidos, seguimos em direção à ponte Alexandre III, uma das mais bonitas de Paris, construida em homenagear ao imperador russo de mesmo nome, para celebrar as boas relações França-Rússia à época. Mais uma vez difícil de explicar em palavras, e mostrar em fotos a beleza do lugar. Cruzamos o Sena bem devagar, curtindo cada momento, vendo as crianças de Paris jogando futebol e críquete e o movimento em geral. Do outro lado do rio, passamos pelo Grand Palais e pelo Petit Palais em direção à Champs-Elysées, donde partimos para a rua Rivoli, em busca da famosa casa de chás Angelina. Pedimos exatamente o que os guias e o próprio menu do lugar recomendam, mas não foi tudo aquilo que eu esperava. Não foi ruim, mas já comi doces bem melhores em outros lugares da França e do Brasil.

Andamos mais um tanto e registrei mais um pulinho da Tati no metrô. Neste dia jantamos pertinho do hotel, pois estávamos acabados. Muito bom, mas nada novo.


Na segunda e na terça a rotina foi a mesma. Acordei muito cedo para me arrumar e pegar o metrô até o ponto de encontro com a minha carona para o centro tecnológico da Renault, onde conheceria uma série de pessoas novas e teria várias reuniões, em várias línguas, sobre vários assuntos. Fez muito frio estes dois dias, o que fez da minha espera na rua uma aventura a parte. Por sorte tinha um café próximo ao ponto de encontro, onde podia passar um tempo me esquentando com um Au lait.

Não tenho nem como descrever o Technocentre. É um lugar gigante, como se fosse um pólo constituído de vários shopping centers, que abrigam nada menos do que 12.000 profissionais da Renault. É assustador e fascinante ao mesmo tempo. Tudo é novo e a tecnologia dos edifícios, comparada com a que normalmente encontramos em casa, é de ponta. Mais uma vez encontrei várias pessoas que falam português, o que sempre ajuda a quebrar o gelo.

Na primeira noite, depois do trabalho, encontrei a Tati na estação Georgers V da Champs, onde entramos em um Bistrô e jantamos um belo prato de minúsculos Mules Frites. Desta vez não tomei vinho. Depois da janta, uma rápida torta de chocolate com bananas na Brioche Dorée, uma também breve caminhada pela região, e como estávamos congelando, voltamos para o hotel. No outro dia, terça-feira, ontem, depois do trabalho, nos encontramos no hotel e saímos para ver a Torre Eiffel iluminada. Além da iluminação normal, nos 10 primeiros minutos de cada hora, várias luzes brancas ficam piscando em toda a altura da torre, o que proporciona um espetáculo de tirar o fôlego. Jantamos por ali mesmo, com os olhos na torre, como minha despedida de Paris. Talvez esta tenha sido a melhor janta de todas, mas não dá mais para saber a esta altura. Matamos a vontade de mais um prato que já conhecíamos da nossa outra viagem à França, a tradicional Soupe de Poisson, que como o nome dá a dica é uma sopa fresca de peixes, que muda de cor e sabor dependendo da região e dos peixes da época. Estava de lamber o fundo do prato fundo. Realmente acho que eu deveria dedicar minha vida aos trocadilhos. Não são geniais?


É isso aí, depois de comer e beber como um condenado na França, cá estou no avião para a Colômbia, onde imagino que mais aventuras profissio-eno-gastro e talvez desta vez não turísticas me aguardam. A Tati ficou em Paris e já estou com saudades dos dias ótimos que tivemos juntos por lá, ao mesmo tempo estou curioso para conhecer a terra de um de meus ídolos, Garcia Marquez. Nos veremos em breve por aqui.


Gostei mais de voar durante o dia, é mais fácil de relaxar pois não se tem a obrigação de tentar dormir naquele aperto do avião. Pareceu também um pouco mais rápido do que uma viagem transatlântica normal. Quatro filmes e duas refeições depois, estávamos pousando em Bogotá. O esquema de segurança da Renault para visitantes na Bolívia é impressionante. Até para fazer a conexão em Bogotá da ala internacional para a nacional, onde pegaria a conexão para Medellin, existe um encarregado de te acompanhar. Me pareceu exagero, pois as pessoas no aeroporto e na rua pareciam felizes e tranqüilas. Melhor não discutir essas coisas, cada um sabe do país onde vive. A conexão foi mais rápida que a da ponte aérea Rio-São Paulo no Brasil, apenas 45 minutos de vôo. Chegando em Medellin, fui recepcionado pelo responsável de segurança daqui, que me trouxe até o hotel. Como ainda estou no horário de Paris, acordei muito cedo hoje e aproveito para escrever mais um pouco. Hoje é quinta-feira, dia 31 de janeiro e amanhã a noite, depois de duas semanas de correria, finalmente vou para casa. O melhor de viajar, sem dúvida é voltar para casa.

A primeira impressão da Colômbia, especialmente de Medellin, não poderia ter sido melhor. O caminho do aeroporto até o hotel é visualmente fantástico. A cidade fica no meio das montanhas e a descida até o centro da cidade é muito grande. O interessante é que a cidade é espalhada por toda a montanha o que proporciona uma vista noturna muito bacana enquanto se desce as ladeiras ingremes que circulam Medellin.

O hotel fica colado em um grande shopping center da cidade e é, de longe, o hotel mais luxuoso que já fiquei em minhas viagens até hoje. O quarto é umas três vezes maior do que o quarto padrão Ibis e o atendimento é fora do comum. Só me resta me preparar para um dia de agenda cheia no trabalho. Volto depois.


E dá-lhe aeroporto. Para variar não consegui escrever nos dias de trabalho, mas agora, sexta-feira, dia primeiro de fevereiro de dois mil e oito, cá estou em mais uma sala de embarque. Quem falou que os vôos só atrasam no Brasil. O nosso aqui de Medellin para Bogotá está com previsão de atraso de uma hora. Suficiente para escrever o pouco que falta sobre estas duas semanas de correria.

A empresa que visitei aqui em Medellin chama-se Sofasa e é uma sociedade entre Renault (60%) e Toyota (40%). União interessante e que traz para ambas algumas vantagens estratégicas importantes para essa região. Mas, como não estamos aqui para falar de negócios, sobre a empresa só posso relatar brevemente sua interessantíssima história, que já acumula 32 anos. Na maior parte deste tempo, a Sofasa foi dominada por um sindicato local que, segundo dizem por aqui, ia além da intransigência, beirando a guerrilha. A empresa estava à beira da bancarrota devido à atuação deste sindicato, quando os próprios funcionários mobilizaram-se para salvá-la. Exigiram a saída do sindicato e mais, exigiram que a empresa funcionasse sem a presença de nenhum sindicato. O grau de comprometimento, alegria no trabalho e criatividade que existe nesta empresa, nunca vi nada igual. Mesmo agora, com o cancelamento de um turno inteiro de produção e na iminência de uma demissão de grande porte, as pessoas estão motivadas e tranqüilas. Percebe-se a tristeza e fala-se, em todos os níveis, abertamente sobre o assunto. É realmente impressionante. Continuou na minha estada em Medellin a atenção exagerada à minha segurança. Todos os dias fui transportado por pessoal especializado, armado, em carro blindado, pelas ruas da cidade. Por pouco o segurança não me colocou dentro do avião agora pouco quando chegamos ao aeroporto.

Como falei antes, a situação por aqui está muito mais tranquila do que há alguns anos, entretanto, o povo está cada vez menos conformado com os sequestros e a violência da guerrilha. Na próxima segunda-feira haverá em todo o país, e até em alguns países pelo mundo, uma grande marcha de protesto contra a FARC. Vou perder este evento histórico.

Ontem pela noite, por um acesso direto do restaurante do hotel, fui visitar shopping de Medellin. É um lugar tão pitoresco quanto o próprio restaurante. É como se fosse uma série de pequenos shopping centers de rua reunidos em um só. Muito grande e bonito. O povo, como em todos os lugares pelos quais passei por aqui, mais simpático do que o que estamos acostumados no Brasil.

Agora faço um comentário que pode resultar em uma desagradável briga doméstica mas, para o bem do registro, não posso me omitir de nenhum fato percebido. As mulheres da Colômbia são muito bonitas, e todas, com raras exceções, usam próteses de silicone nos seios. Percebi este fato porque, e só porque, fui alertado por um dos seguranças que me transportava na chegada em Medellin. Pronto, fato constatado. Seja o que Deus quiser.

O mesmo senhor que me alertou do silicone, me indicou um restaurante de comida típica aqui da região da Antióquia, onde Medellin se encontra. Claro que fui conferir. Como de costume, não anotei e esqueci o nome do prato, mas basicamente é arroz com feijão claro (duas vezes maior do que o brasileiro, o que é muito esquisito para nós), um pedaço enorme de torresmo, lingüiça, carne moída, abacate e banana. Para ser bem honesto não achei lá grandes cosias. Fico com a nossa feijoada. O que gostei bastante foi da entrada, que também esqueci o nome, mas basicamente é plátano (aquela banana diferente) frito com uma guacamole muitíssimo bem temperada e saborosa. Para acompanhar resolvi experimentar duas cervejas locais, uma chamada Pilsen que parece muito com nossas cervejas comuns do Brasil e outra chamada Club Colombia, que achei um pouco mais forte, mas também mais saborosa e encorpada. Vários “con mucho gusto” depois, entrei no hotel e fui dormir. Hoje foi só trabalho, almoço, que por coincidência foi o mesmo prato típico de ontem, e aeroporto.


Agora só me resta esperar o primeiro de três vôos que tenho antes de chegar em casa, curtir o pequeno Ozzy, esperar a Tati chegar no Domingo, matar a saudades, organizar as coisas e curtir o feriado de carnaval. Ou seja, só me resta a melhor parte.

Um comentário:

Tatiana Pellissari Acras disse...

Essa viagem foi bem diferente....muito bom encontrar com você na Champs!
Mais boas lembranças no nosso diário, né?

beijos!