sábado, 21 de novembro de 2009
Flashes da Romênia, França e Espanha
segunda-feira, 29 de junho de 2009
O que vale é o busão
Acordo as cinco, chego ao aeroporto as seis, voo as sete, chego ao Rio as nove, me enrolo um pouco, decido conhecer o Rio, pego um táxi-guia, em três horas com meu novo amigo Marcelo vejo a casa do Roberto Carlos, a casa do Roberto Marinho, nenhuma outra casa de nenhum outro Roberto, Copacabana e o Copacabana Palace, Leblon, Ipanema, Urca e o Morro da Urca, várias favelas, a maioria de longe, o aterro do Flamengo, o Maracanã, o lugar onde o Ronaldo (me recuso a dizer, o Fenômeno) começou sua carreira, o mirante de Santa Marta, o Jardim Botânico (bem de longe), o Cristo (mais de longe ainda), o Pão de Açúcar, o Pinel, a Lagoa Rodrigo de Freitas, as casa de praia de D. Pedro e da Princesa Isabel, a praia do Botafogo, a praça da Apoteose, a passarela do samba, o aeroporto Santos Dummont e o Tom Jobim, a ponte Rio - Niterói, a ilha do governador, a linha vermelha, a igreja da Candelária, quatro ou cinco caveirões e o simpático pessoal do Bope, a floresta da Tijuca, a central do Brasil, as sedes do Vasco, do Fluminense e do Botafogo, chego novamente no aeroporto, faço o check-in, embarco, quase dez horas de voo e estou em Paris, chego no hotel de táxi, deixo a mala no maleiro eletrônico e saio até a torre Eiffel, mais por não ter destino definido, beiro o Sena até a Notre Dame, no caminho paro em uma aglomeração popular, bem depois descubro que é o Obama indo embora e espero para ver, vejo, procuro a livraria Shakespeare and Co., compro um livro do Dylan ilustrado para o meu pequeno e toco Hey Jude no piano que serve de expositor para os livros relacionados à música, na rua compro um Camus para um amigo, em francês que é para judiar do amigo, almoço no restaurante que tinha almoçado com minha querida da última vez, tomo um sorvete de sobremesa no lugar onde tinha tomado um sorvete com minha querida da última vez, ando mais um pouco e pego o metrô, volto para o hotel e empacoto na cama até a hora da janta, acordo às 22 duas e ainda é dia, janto com o sol, durmo novamente e acordo para trabalhar, três dias na mesma rotina, acordo, me arrumo, tomo café-da-manhã, metrô até a estação perto da casa da amiga, carona até o trabalho, reunião atrás de reunião, carona com a amiga até o metrô perto da casa dela, hotel, janta e sono, com exceção do último dia que teve, hotel, diária extra para tomar um banho e me arrumar para a viagem de volta, táxi, aeroporto, check-in, voo de 11 horas para São Paulo, espera de 2 horas, voo de 47 minutos para Curitiba.
Na chegada, rodoviária para pegar um busão até minha cidade natal. Como era hora do almoço e meu estômago tem uma adaptação exemplar ao fuso horário local, procurei um restaurante para almoçar. Jóia. Esse era o nome do restaurante. O prato do dia, bife à milanesa com arroz, feijão, salada e fritas. Se tivesse um ovo frito escorrendo amarelo em cima do feijão seria perfeito. Foi quase perfeito. Depois de mais de 22 horas de voo, 27 de trabalhos intensos, seis descias ao metrô e alguns quilômetros de pernada em Paris e uma visita relâmpago ao Rio de Janeiro, veja aonde vim parar. Onde tudo começou. Meu lugar preferido da semana quando estudava para ser engenheiro. O marco zero de todos os finais de semana com a família, os amigos e as paqueras (o plural aqui é exagerado). A rodoviária de Curitiba. Um lugar feio, fedido, perigoso e sem graça, mas que para mim significava todas as possibilidades de uma idade em que possibilidade é tudo o que se pode ter.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
Córdoba - Paris
Agora sim a coisa esquentou, duas viagens coladas, com um final de semana em casa. Claro que o final de semana em casa é ótimo, mas sair no Domingo à noite logo após ter chegado sexta de madrugada não é muito gostoso.
A primeira parte foi para a Argentina, mais especificamente Córdoba. Não dá para dizer que foi desta vez que conheci algo da Argentina, pois cheguei em Córdoba aproximadamente às 3 horas da madrugada de quinta e saí exatamente às 17 horas da sexta. De curioso da minha chegada a Córdoba só posso dizer que tive muito azar com os taxistas, tanto de casa até o aeroporto em Curitiba, quanto do aeroporto até o hotel em Córdoba. O primeiro resolveu cortar caminho, sem me consultar, pelo meio da favela da Vila Pinto. O segundo resolveu que já estava muito tarde e nós deveríamos chegar ao hotel o quanto antes possível, fazendo do limite de velocidade estampado nas placas, mera decoração rodoviária. Antes que eu esqueça, estava com um colega de trabalho francês nesta segunda corrida.
A única coisa notável desta viagem, além é claro do trabalho muito produtivo, foi um passeio que o pessoal do trabalho nos deu o privilégio de organizar. Fomos de carro circulando um enorme lago artificial que abastece a cidade de Córdoba. Este lago foi construído durante os governos militares dos anos 70 na Argentina, assim como outros 3 ou 4 que existem na região. A obra é de ma grandiosidade e beleza notáveis. No meio do caminho passamos pelo monumento que define o centro geográfico da Argentina, o que não tem absolutamente nada demais. Tirei uma foto. Paramos em uma cidade chamada Carlos Paz, pequena e turística, com um calçadão muito simpático onde comprei alfajor caseiro e tomamos uma cerveja antes de voltar para o hotel. Mais um dia de trabalho e voltaria para casa. Foi exatamente o que aconteceu, e assim foi minha insignificante estada em território Argentino. Desta vez não tenho uma lista de curiosidades, como já de costume, a não ser o fato de que no restaurante da empresa existem vários fornos de microondas espalhados para que o povo possa esquentar sua comida. Isso é que é honestidade.”Caros colaboradores, admitimos nossa incapacidade de servir comida quentinha para esse bando de gente, por isso, pensando na motivação e no bem estar de nosso maior patrimônio, vocês, estamos instalando luxuosos fornos de microondas para o caso de desejarem esquentar seus pratos de comida. Aproveitamos para informar que pipoca não. Só em jogo de copa, e só se for contra o Brasil.”
Estava em casa novamente, curtindo o Sabadão com minha esposa. Aliás, estava uma delícia. Fizemos de tudo um pouco.
Hoje, Domingo dia 06 de abril, fomos até o aeroporto para que eu pegasse o vôo para São Paulo, com destino final Paris. Logo após o check-in fui chamado no sistema de auto-falantes do aeroporto. Confesso que fiquei meio feliz, pois foi a primeira vez que tive a honra de escutar meu próprio nome desta maneira. A alegria aumentou quando descobri que o vôo que sairia de Paris para São Paulo foi cancelado e que eu seria realocado em um vôo saindo do Rio de Janeiro, bem mais tarde que o primeiro. Ótimo, tinha mais um tempão para passear com a Tati. Deu até para passar em casa tomar mais um banho antes de embarcar. Chegando novamente no aeroporto de Curitiba, como já havia feito o check-in, entrei direto na sala de embarque. Sentei e comecei a ler um livro que já estava há tempo na fila. O livro começou tão interessante que nem reparei que estava sentado ao lado do Chico Anysio e sua equipe, que tinham vindo para Curitiba fazer um show privado para algum abastado da região. O Chico estava numa cadeira de rodas, coisa que me deixou um pouco triste. Não que eu seja um fã, sequer um admirador, mas é chato ver personagens com os quais você cresceu acostumado a ver na televisão numa situação destas. De qualquer maneira ele e a equipe foram muito simpáticos, especialmente quando meu celular tocou. Como tenho no celular o toque de telefone por IP, imortalizado no seriado 24 horas, um dos assistentes do Chico, obviamente fã do seriado, foi à loucura. Ativamos nossos blue-tooth e em questão de minutos estavam todos brincando de agentes da CTU. Todos eles tem a música do filme Missão Impossível para quando o Chico os chama. Não quis entrar em detalhes. Minutos antes do check-in abrir, chamaram Chico e sua equipe, que em agradecimento ao toque de celular gentilmente cedido, me levou junto para dentro do avião. Uma hora depois estava em solo carioca, com uma despedida ainda mais simpática da equipe do Chico. Já saí do avião com apelido, obviamente relacionado à minha cara de terrorista árabe e suas previsíveis relações com o famoso seriado de Jack Bauer. Comecei bem.
O vôo para Paris foi muito tranqüilo, com certeza o vôo transatlântico menos turbulento que eu já fiz até hoje. Como partimos bastante atrasados e Paris nesta época está 5 horas à frente do Brasil, cheguei já no final da tarde. Fiz o check-in no mesmo hotel que a Tati ficou em Janeiro e sai passear um pouco. Estamos no começo de Abril e o dia já dura muito mais do que em Janeiro. Neste primeiro dia, teve luz do sol até umas 8 da noite. Apesar disto, o frio continua muito parecido com o da última viagem no início do ano. O vento que bate de frente para quem está descendo a Champs-Elysées em direção ao Louvre ainda é insuportável. Andei umas duas horas, tirei mais um zilhão de fotos da Torre Eiffel e fui dormir.
O primeiro dia de trabalho foi longo e cansativo. Apesar da tentativa de todos de falar em inglês, a boa vontade durou pouco e a maioria das discussões aconteceram em francês, o que me exigiu o suficiente para disparar uma dor de cabeça. No final da jornada fomos a um restaurante muito simpático, perto do centro tecnológico da Renault, onde estivemos trabalhando neste primeiro dia. O vinho já estava aberto na mesa e a entrada servida. Comi muito pão com patê de porco, pois estava com uma fome danada. O primeiro prato foi uma salada deliciosa com vários tipos de carne de pato em pedaços. Tinha magré, fois-gras e outra coisa que não consegui decifrar. Muito bom. O prato principal, adivinhem, era pato, o famoso Confit de Canard. Uma delícia, como sempre. Bebi muito vinho, o suficiente para passar a dor de cabeça que já estava começando a me incomodar. Peguei carona até Paris com um dos meus colegas de trabalho, que bondosamente fez um belo tour de carro pela avenida que contorna as margens do rio Sena. O cara estava animado e até propôs continuarmos a noite, mas já era tarde e este tipo de esticada não é comigo. Fui para o hotel e dormi.
Neste segundo dia de trabalho as coisas foram mais leves. Na verdade foi apenas uma convenção de logística que aconteceu pela manhã nos arredores da matriz da Renault em Paris. Consegui entender 4,3% do que foi dito, o que significa que meu francês está melhorando consideravelmente. Estou deveras orgulhoso de mim. Parabéns. Encontrei o chefão Ghosn pela segunda vez. Sai pouco depois do meio-dia, peguei o metrô e voltei para o hotel buscar a mala que havia deixado na portaria. Antes de chegar no hotel comprei uns produtos anti-alguma-coisa que minha esposa encomendou. Pela primeira vez na vida consegui pegar um táxi com um motorista estrante. Hoje é o primeiro dia dele e até que ele se saiu muito bem até a estação St. Lazare, onde peguei este trem que agora me leva para Rouen. Ih, a casa caiu, ou como não diriam por aqui, la maison tombé, a bateria está acabando e tenho que ir. Volto amanhã.
Amanhã já é hoje, portanto voltei. Mas voltei para falar de ontem, que quando ainda era hoje a bateria tinha acabado e não consegui terminar. Holly crap, esta foi de lascar. Bom, chegando em Rouen peguei um táxi até a catedral, que ao contrário da outra vez consegui ver com calma e com a luz do dia. Andei bastante pelas redondezas, tirei várias fotos, comprei chocolates no Larmes de Jeanne D'Arc e um delicioso queijo regional em uma loja do mercado ao ar livre que eles têm por aqui. Tudo isso arrastando minha mala de rodinhas pela calçada e atrapalhando a calma que predomina em Rouen. No final da andança, entrei no museu Flaubert. O museu é, como de costume, na casa onde Flaubert nasceu, e tem muito pouco sobre Flaubert. Na verdade é mais um museu da história da medicina do que sobre o famoso escritor de Madamme Bovarie. Não gastei 20 minutos no lugar e peguei um táxi para o hotel em Grand Couronne.
Em termos turísticos esta foi de longe a melhor parte da viagem. O hotel Bellevue que, como o nome indica, tem uma vista incrível do rio Sena, fica perto de Grand Couronne, uns 5 quilômetros depois da entrada para a Renault. Além da bela vista, o hotel fica em um pequeno vilarejo, daqueles típicos do interior da França. Apesar do frio, andei um pouco pelas redondezas do hotel. Na volta, após um breve descanso, me encontrei com alguns amigos de trabalho para o aguardado jantar no próprio hotel, que tem um dos melhores restaurantes da região. Como era de se esperar, o jantar foi fantástico. O Vincent, um dos colegas de trabalho, fez questão de pedir os meus pratos. Fui na onda e não me arrependi. Para começar, uma sopa de peixes (Soupe de Poisson, com pain a l'ail, queijo gruyère e molho rouville) como eu nunca havia experimentado antes. E olhe que de sopa de peixe eu conheço um pouco. De prato principal, cérebro de bezerro (tete de veau com molho gribiche), que se assusta no conceito, surpreende no sabor. Estava realmente delicioso. No final, é claro, 3 tipos de queijos da região, Pont L'evèque, Neufchatel e o Camembert. Tudo isto foi acompanhado por uma bela garrafa de Bordeaux que o Vincent escolheu. Um Chateu Pontac Lynch, cru Bourgeois, AOC Margaux. Quase nada do que escrevi neste parágrafo é do meu domínio, só copei o que escreveram para mim em um guardanapo do restaurante para não esquecer da próxima vez. Amanhã é o último dia.
Hoje de manhã fazia um frio de 0 graus. Não vamos esquecer que estamos na primavera francesa. Apesar disto, o sol bate forte lá fora, pelo menos por enquanto. É dia de voltar para casa, que é sempre um dia bom. Do ponto de vista de trabalho, a coisa não está muito boa. Para se ter uma idéia, estou descrevendo estas aventuras no meio de uma reunião muito importante, que eu deveria estar participando ativamente se não fosse por um pequeno detalhe. Abandonaram o inglês. No primeiro dia até que tentaram um pouco, mas agora já era, não estou entendendo nada. Tentei algumas vezes, com ajuda do Jean-Louis e do Vincent, mas o pessoal não quer saber, é em francês e ponto. Até entendo os assuntos maiores e a direção que a conversa vai, mas estou perdendo muitos detalhes importantes. Daqui a pouco é minha vez de apresentar os resultados de Curitiba. Vou me vingar falando tudo em português. E com sotaque nordestino, só de raiva. A boa notícia, é claro, vem da culinária. Almoçamos no restaurante da associação da Renault de Grand Couronne. Foi mais um coquetel do que um almoço, onde foi servido desde fois gras até scargot. De sobremesa, vários doces, entre eles, creme brulée e macarron. Vinho e champagne o tempo todo. Sem comentários.
Daqui a pouco saio para o aeroporto para voltar para casa. Acho que só volto para cá quando estiver falando bem o francês, ou quando for uma missão solo. Assim paro de ganhar peso à toa. Se bem que ...
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
Je ne parle pas Français / No hablo muy buen español - uma aventura profissio-gastro-eno-turística na França e na Colômbia
A primeira hora e meia de vôo foi bem turbulenta. Nada demais, mas fiquei preocupado com a Tati, que já estava meio desesperada. Lá íamos nós mais uma vez. Pouco mais de quatro meses depois de voltarmos de Nova Iorque, embarcamos para uma viagem de duas semanas à França. Eu a trabalho, a Tati para estudar francês.
Descemos em Paris no dia 20 de janeiro de 2008, um Domingo não tão frio para a época. Fazia 12 graus, sem sol mas também sem chuva. Desta vez abrimos mão do conforto do táxi e resolvemos arriscar o ônibus da Air France, que se mostrou muito eficiente. Descemos no centro, e com um táxi rápido estávamos no hotel onde a Tati vai passar estas duas semanas. Hoje já é terça-feira, dia 22 e eu estou em um intervalo do trabalho no centro de exportação da Renault em Rouen.
Voltando ao dia 20, tentamos conseguir um quarto antes da hora do check-in, mas não funcionou. Era perto das 10 da manhã, deixamos as malas na recepção e saímos por Paris. Paramos rapidamente em um café do outro lado da rua, tomamos nossos au lait com croissants e fomos aprender como chegar na escola onde a Tati iniciaria os estudos de francês no dia seguinte. Foi um passeio diferente, pois estávamos ao mesmo tempo muito felizes de estar em Paris e meio anestesiados por não termos dormido no avião, como de praxe. Descemos em uma estação não muito distante da escola, mas levamos mais de 40 minutos para chegar lá, um pouco porque estávamos perdidos e um pouco porque paramos em alguns lugares. Um deles, é claro, o primeiro Starbucks da viagem. Não lembro se foi nesse momento, ou um pouco antes, mas consegui registrar um belo (e já tradicional) pulinho de alegria da Tati. Eu adoro estes pulinhos, mas isso não é novidade. Achamos a escola, que fica em uma das radiais de uma praça bem simpática, que agora não lembro o nome. Tudo certo, a Tati não teria mais desculpa para se perder.
Como no caminho para a escola tínhamos avistado o arco do triunfo, resolvemos andar até lá. É muito bacana vê-lo de ângulos diferentes. Eu já estivera em Paris duas vezes antes dessa e só tinha visto o arcão de frente, pela Champs-Elysées do lado direito. Desta vez, como estávamos vindo de uma das ruas laterais, tivemos a chance de ver todos os ângulos da porta de entrada de Napoleão à Paris, construido para festejar suas vitórias de guerra e por onde, ironicamente, ele só passou depois de morto, dentro de seu pomposo féretro.
Fomos andando pela avenida mais famosa (e cara) de Paris e talvez do mundo até a Place de Tuilieres, onde finalmente almoçamos em um restaurante muito simpático. Com a imaginação a toda, e a fome maior ainda, pedimos o mesmo prato, sem pensar muito. Era um corte de gado com batatas fritas e manteiga de ervas finas. Como é bom poder comer carne de gado na França. Da última vez que estivemos aqui, em 2001, a doença da vaca-louca era moda, nos forçando a uma dieta sem carne de gado. Andamos mais um pouco até o Louvre, mas não entramos no museu. Pode ser bobagem, mas eu estava louco para ver as pirâmides do Louvre depois de ler o Código DaVinci. Aliás, DaVinci é o nome da rua onde a escola da Tati está localizada.
Agora estávamos oficialmente acabados. Achamos o metrô mais próximo e voltamos para o hotel. Não fiquei mais do que meia-hora antes de partir para a estação de trem St. Lazare, donde partiria para Rouen um pouco mais tarde. Assim como na Inglaterra, o sistema ferroviário de passageiros na França é muito bom. Com muita facilidade, mesmo não falando francês, consegui comprar a passagem e entrar no trem correto. Uma hora e meia mais tarde estava chegando na estação de Rouen. Estou hospedado no Ibis da margem direita do rio Sena, que atravessa Rouen. Como estava há mais de 40 horas sem dormir, jantei no próprio hotel e capotei. Eram umas oito horas da noite quando dormi, mas antes tive a chance de provar um prato muito bom, com pato preparado de três maneiras diferentes, a saber, peito de pato na grelha, presunto defumado de pato e uma terrine de pato. Tudo muito bom, ainda mais acompanhado por uma taça de Bordeaux, dos mais simples, mas muito eficiente. Como diria um amigo meu, dormi como uma pedra (acho que já usei esta referência antes mas, como dizem por aqui, voilá, que aliás, percebi agora, se parece muito com o nosso “vai lá”. Tá bom eu paro.)
Na segunda-feira, dia 21, acabei acordando mais cedo do que o necessário, quando percebi que a luz do meu quarto havia sido cortada. Apesar das insistências com o pessoal do hotel, não consegui com que o problema fosse resolvido a tempo, de maneira que tive que me arrumar sem luz. Sem problemas pois chegaria mais tarde na Renault, uma vez que a locadora de veículos só abriria às nove da manhã. Petit dejeuner, táxi até a locadora (que fica na mesma estação de trem na qual cheguei em Rouen) e estava com o carro em mãos. Levei um bom tempo estudando o GPS antes de sair da garagem, pois não querida me distrair ao volante. Não adiantou nada. Até consegui programar razoavelmente bem o aparelhinho, apesar do fato de que, na primeira curva que eu deveria fazer, ele começou a falar comigo em Holandês, com uma voz feminina nada amigável. Mais alguns pequenos ajustes e estava no caminho para Gran-Couronne, a pequena vila onde fica localizado o centro de exportação da Renault na França.
Passei o dia trabalhando por aqui. A recepção foi muito gentil e todo o pessoal pareceu muito disponível e simpático. Não vou entrar em detalhes, pois este é um diário de viagem e não de trabalho, mas todas as pessoas por aqui parecem muito felizes e motivadas com o trabalho, desde a gerência até o pessoal do chão-de-fábrica, expressão interessante pois não estamos em uma fábrica. Almocei por aqui mesmo, com minha hostess, a Catherine. O almoço é bom, principalmente porque se tem queijos ótimos à disposição e, é claro, algumas opções de vinho. O resto não é grandes coisas, mas quem se importa.
Terminado o primeiro dia de trabalho, voltei para o hotel. Não sem antes sofrer um pouquinho mais com o GPS e pegar um engarrafamento digno de nota. Levei uns 50 minutos para andar 20 Km. Me informei no hotel sobre um bom restaurante e saí. Andei pelo centro histórico de Rouen, que é bem interessante. Duas das figuras que marcam a história da cidade são Flaubert e Joanna D'Arc. O primeiro tem um museu enorme junto ao palácio do governo da Alta-Normandia, região da França da qual Rouen é a capital. Uma boa parte do clássico Madame Bovary é inspirada em Rouen. A segunda dispensa maiores comentários e foi aqui em Rouen que a executaram queimada na fogueira dos hereges. A ela também é dedicado um belo museu, menor que o de Flaubert, mas igualmente rico em detalhes históricos. A poucos metros do museu, o restaurante que tem o mesmo nome da praça onde estão localizados vários outros, além de cafés, boulangeries e lojas de doces. Le Vieux Marchant é o nome do lugar. Não acertei muito ao escolher o prato principal, que não estava ruim, mas não empolgou. Confit de Canard com uma salada de folhas verdes. Por outro lado, acertei em cheio na sobremesa, um Créme Brulée de primeiríssima seguido de um prato de Camembert com uma taça de um vinho qualquer que quebrou um bom galho. Achei que a conta viria salgada, o que faltou no pato. Acertei.
Esta noite dormi melhor e, como só tinha compromisso às nove da manhã, resolvi enrolar um pouco no hotel. Hoje é dia 22 de janeiro, um pouco mais frio do que Domingo e ontem, uns 8 graus, e só agora consegui começar escrever alguma coisa sobre estes dois e meio primeiros dias. Hoje, além do trabalho, não aconteceu nada demais. A exceção foi o jantar no hotel, que estava excelente. Comi um prato típico chamado coq au vin, algo como (os franceses que me desculpem) frango no vinho tinto. A tradução literal seria galo ao vinho. Independente do que fosse, estava muito bem preparado, com o molho combinando perfeitamente com a taça de Chotes du Rône que eu pedi para acompanhar. No final um belo prato de queijos, sem sobremesa desta vez. Tudo certo para mais uma bela noite de sono.
Este dia 23 foi um dia agitado no trabalho, com bastante reuniões produtivas, que obviamente não vou detalhar aqui, afinal, você não é meu chefe, a não ser que meu chefe esteja lendo este texto. Neste caso posso afirmar que estou trabalhando bastante por aqui chefe, fique tranqüilo viu? Na volta preparo um belo relatório de viagem.
Em dias de trabalho só posso falar do almoço, da janta e de eventuais passeios noturnos. Bom, vamos lá. O almoço de hoje foi na Renault, mas não no restaurante comum. Foi em uma associação de funcionários que, segundo meu guia, o senhor Chazal, existe em todas as unidades da Renault. Basicamente é um restaurante mais sofisticado, não tão perto do agito do trabalho e com serviço diferenciado. Imagino que o preço também deva ser, mas me fiz de bobo e não pus a mão no bolso. Nem poderia, pois o Guillaume já tinha um cartão com minha refeição paga. O prato de hoje chamava-se Ficelles Picardes, que é basicamente um crepe recheado de presunto defumado e cogumelos com molho branco. Por mais simples que seja a descrição do prato, sabor é indescritível. Segundo Guillaume, o prato é tipo da Normandia e muito apreciado por aqui. Entendo o porquê, principalmente acompanhado de uma garrafa de Domaine St. George D'Ibry, que eu não tenho a menor idéia de que tipo de vinho seja, mas é bom prá diabo. Como percebem, estou bebendo bastante por aqui (e trabalhando muito viu chefe!?!?!?) Já que estamos no departamento das bebidas, esqueci de mencionar que de entrada tomamos um kir de vinho branco com licor de rosas. É eu sei, é meio esquisito para não usar outros termos, mas até que é bom. Não preciso dizer que a tarde foi sonolenta, pois não estou acostumado a trabalhar depois de beber. Bom, como um bom profissional, faço de tudo para me adaptar à cultura local.
No final do dia dirigi até o hotel, guiado pela sempre amigável voz do GPS. Resolvi novamente andar pelas ruas de Rouen, o que se provou uma boa idéia. É uma pena que só consigo ver a cidade no escuro, mas pelo que tenho visto, vale a pena passar uns dois dias de férias por aqui. Muito lugar bacana, muita construção interessante dos tempos antigos (quando você é uma lástima em história usa a palavra “antigos” que fica tudo bem), enfim, uma típica e bela cidade européia antiga (percebeu o truque?) A janta foi boa, no mesmo Le Vieux Marchant de dois dias atrás, mas nada memorável para relatar. Deveria ter experimentado outro. Antes do restaurante entrei em uma simpática loja de vinhos. Com meu francês terrível consegui explicar o que eu queria, e fui gentilmente ajudado pelo dono da loja e uma cliente simpática que parecia entender bastante do assunto, mas esqueceu que eu não falava francês e disparou. Como ela saiu falando e nem se deu conta, deixei por isso mesmo. Garrafas na sacola, postais de Rouen no envelope, barriga cheia e zonzo do efeito cumulativo de tanto vinho, voltei para dormir. Não antes sem contar um pouco de mais este dia de aventuras gastro-alcoólicas moderadas e (presta atenção hein chefe) MUITO TRABALHO. A demain, se é que é assim que se escreve. Meu francês é uma merda, mas eu insisto.
Hoje, como não aconteceu absolutamente nada demais fora do trabalho, vou me concentrar na já tradicional lista de coisas interessantes do ambiente de trabalho do país visitado. Lá vai então:
No almoço, se você chega na mesa que já tem pessoas, deve cumprimentar com o tradicional aperto de mãos todo mundo.
O estacionamento para funcionários é do lado de fora da empresa.
Os sapatos de segurança são chiques. Existem modelos que parecem de festa e outros coloridos para as meninas. Quando você é visitante, como eu, tem a sua disposição um verdadeiro estoque, de todos os tipos, acompanhados de uma meia descartável para não enchulezar o sapato.
As máquinas de café são movidas a um pequeno cartucho com a mistura do seu gosto. É só colocá-lo na máquina que ela faz todo o resto e ainda o descarta no final.
Por incrível que pareça, aqui no escondido da França, pelo menos cinco pessoas falam português fluente na planta de Grand-Couronne. É mole?
Todo mundo cumprimenta todo mundo todos os dias. É falta de educação não fazê-lo. Quando o cumprimento envolve mulheres, existem os dois beijinhos no rosto, um em cada lado, bem sincronizado, como se fosse um ritual ensaiado. Bom, não deixa de ser.
Amanhã trabalho pouco e vou para Paris reencontrar a Tati. Não vejo a hora.
Mesmo com o francês esquelético que eu tenho, consegui me comunicar bem neste último dia de Grand-Couronne. Cheguei cedo no trabalho e depois de algumas horas conseguindo as últimas informações e de um almoço gostoso com a sub-diretora da planta, era hora de voltar a Paris. Consegui explicar para a moça do posto de gasolina que no Brasil existem frentistas, portanto, não tinha a menor idéia de como encher um tanque de combustível. Simpática, ela o fez para mim. Consegui também pedir informações sobre o estacionamento da locadora para devolver o carro e comprar a passagem de TGV para a mesma estação St. Lazare da qual havia partido no Domingo anterior. Cheguei a Paris no final do dia, mas como não havia uma nuvem no céu, depois de matar um pouco a saudades da Tati, saímos andar pela cidade. Andamos até a Torre Eiffel, onde tiramos várias e várias fotos, as mesmas que tiramos da última vez que estivemos por aqui, e da penúltima também. Mas não tem como resistir. Quando anoiteceu, resolvemos pegar um metrô até o hotel onde havíamos ficado quando noivamos em 2001, para matar a saudades daquela época. Fomos também comer no Hard Rock Café, como fizemos algumas vezes naquela viagem. Sessão nostalgia. Andamos bastante pelas redondezas, curtimos bastante o visual noturno da Ópera de Paris e acabados, voltamos para o hotel. Ou melhor, voltamos para para o HRC, pois a Tati havia esquecido sua bolsa na cadeira do restaurante, que por sorte ainda estava lá, pendurada na cadeira. O senhor que ocupava o lugar nem viu a Tati pegar a bolsa rapidinho. Agora sim, voltamos para o hotel.
Hoje já é dia 26, sábado. Tenho o final de semana livre em Paris com a Tati, e por isso aproveitamos bastante para passear pela cidade. Começamos o dia descendo na estação da prefeitura, que desemboca dentro de uma loja de departamentos enorme, onde a Tati comprou umas roupas de ultima hora para ajudar com o frio, que hoje está enorme. Andamos um pouco em volta do prédio e vimos os patinadores de gelo amadores se arriscarem na pista que é instalada todo inverno na frente desa que é uma das construções mais bacanas de Paris.
Continuamos a andança até chegarmos na lateral da igreja de Notre Dame. É um lugar realmente impressionante, e eu não lembrava mais de todos os detalhes bacanas da igreja. Os vitrais são muito legais, mas a frente da igreja é incomparável, com todas as estátuas dos reis que aparecem na bíblia e outros personagens curiosos. Circulamos a igreja e atravessamos a ponte para a Ille de St. Louis, uma pequenina ao lado da Ille de La Citè, onde está localizada a Notre Dame. Lá andamos pela rua principal, com várias lojinhas bem interessantes, uma delas de aspargos e foie gras artesenais, onde tinham várias reportagens de revistas de gastronomia do mundo todo, inclusive uma em português da nossa Gula. Almoçamos por ali mesmo, em um restaurante excelente, recomendado pelo guia Michelin, onde comemos uma carne de gado em molho escuro com purê de batatas acompanhado de um belíssimo Syrah. Na mesa ao lado conhecemos dois casais bem simpáticos de espanhois, que estavam passando o final de semana por aqui. É claro que deixamos de lado a sobremesa do restaurante pois estávamos ao lado da famosa casa de sorvetes Bertillon. Parece que desta vez estava ainda melhor. A Tati pediu pistache e chocolate, eu, chocolate e nuggat, gostei mais do de chocolate.
Com uma garrafa de vinho na cabeça, a barriga estufada e o sol direto nos olhos, a dor de cabeça era inevitável, mas durou pouco. Fomos andando até o Pantheon, uma construção gigantesca e muito bonita, usada para homenagear as grandes personalidades da França. Lá, além do pendulo de Focault e de várias estatuas e peças muito bonitas de tapeçaria, pode-se encontrar os túmulos de gente do porte do casal Curier, de Victor Hugo, de Alexandre Dumas, de Rousseau, entre vários outros. Realmente emocionante. Como estávamos no clima de funeral, decidimos andar até o cemitério de Montparnasse. Lá também encontramos algumas personalidades como Serge Gainsburg, o famoso compositor da mais conhecida música de motel já escrita. Também estava lá o grande matemático Poincaré, pai de um dos teoremas mais polêmicos e disputados da história recente da matemática. Além da presença de celebridades, o cemitério é muito bonito e bem cuidado. Um belo passeio para o fim de dia. Pegamos rapidinho um metrô para o hotel pois queríamos descansar um pouco antes do jantar.
Apesar de termos feito reserva no bistrô Balzar, não curtimos muito o cardápio. Andamos pela região e acabamos na frente da universidade de Sorbonne, numa praça muito simpática com fontes de água por todo o lado. Fazia um frio de cortar, o maior até agora. Entramos num lugar convidativo e acertamos na mosca. L'Écritoire é um lugar simples mas com o melhor atendimento que tivemos até agora na França, feito por apenas um garçom para todas as mesas. Eu comi foie gras de entrada e a Tati uma salada maravilhosa com queijo de cabra derretido. De prato principal comemos o mesmo, um Confit de Canard com um tempero simplesmente indescritível. Perfeito. Nem precisava dos queijos e do Créme Brulée que vieram em seguida. Mais uma vez com a cabeça cheia de vinho, desta vez um Bejoulais bem fresco, e a pança cheia, nos arrastamos até o hotel e dormimos quase que imediatamente. Acabei de acordar para o Domingo e resolvi escrever mais um pouco antes de sair. Mais tarde eu conto como será hoje, que promete. Au revoir.
Infelizmente não consegui cumprir minha promessa, hoje já é quarta-feira e só agora, no avião para a Colômbia que vou conseguir escrever sobre Domingo, Segunda e Terça. Vamos ver se eu lembro. Bom, o Domingo foi bem cansativo, mas não posso reclamar. Andamos o dia todo, das 10 da manhã até umas 5 da tarde. Fomos direto para a Sacre Coeur, onde como sempre tivemos que encarar uma subida considerável de degraus. O lugar estava muito cheio, mas apesar disso continua muito bonito. A praça dos artistas, ao lado da igreja, continua como nos lembrávamos e obviamente encaramos mais uma caricatura ridícula de nós dois, pela bagatela de 30 euros. O povo em torno se divertiu. Passamos um bom tempo por ali, dividimos um crepe com chocolate e descemos para o metro, donde partimos para Les Invalides. No caminho, dentro do centro cultural árabe da Síria, paramos para comer uma gostosa comida árabe. Era um pouco diferente da que estou acostumado, com o tabule bem azedo e a kafta mais temperada, mas mesmo assim estava muito bom. Os donos são Sírios e conheciam de nome a minha família, que é original do mesmo país. Quando pedi para ele uma nota do almoço, não sei a sério ou de gozação, ele escreveu o que comemo em um post-it de propaganda de remédio e me deu. Achei mais comodo não discutir.
Saímos para o Dôme, onde está o túmulo de Napoleão. Como podem ver, continuamos fixados em gente morta. De todos os lugares que já conheci em viagens, este é o mais bonito de todos. A grandiosidade deste lugar impressiona. Aliás, cumpre seu papel pois foi feita para impressionar. Além de Napoleão II, está aqui o primeiro e mais uma série de outras personalidades militares francesas. Para quem olha de fora, já é deslumbrante a visão da cúpula dourada que caracteriza o local e que pode ser vista ao longe, de quase qualquer ponto de Paris. Do lado de dentro o monumento não perde a força. Pelo contrário, as paredes e colunas de mármore com os túmulos enormes de pedra ou madeira são de tirar o fôlego. Passamos um bom tempo lá dentro, brigando com as duas máquinas de fotografia, uma que não segura a carga de nenhuma bateria que colocamos e a outra que não tira boas fotos em ambientes sem muita luz.
Saindo dali, passando pelo pavilhão onde ficam o museu das armas e o hotel dos inválidos, seguimos em direção à ponte Alexandre III, uma das mais bonitas de Paris, construida em homenagear ao imperador russo de mesmo nome, para celebrar as boas relações França-Rússia à época. Mais uma vez difícil de explicar em palavras, e mostrar em fotos a beleza do lugar. Cruzamos o Sena bem devagar, curtindo cada momento, vendo as crianças de Paris jogando futebol e críquete e o movimento em geral. Do outro lado do rio, passamos pelo Grand Palais e pelo Petit Palais em direção à Champs-Elysées, donde partimos para a rua Rivoli, em busca da famosa casa de chás Angelina. Pedimos exatamente o que os guias e o próprio menu do lugar recomendam, mas não foi tudo aquilo que eu esperava. Não foi ruim, mas já comi doces bem melhores em outros lugares da França e do Brasil.
Andamos mais um tanto e registrei mais um pulinho da Tati no metrô. Neste dia jantamos pertinho do hotel, pois estávamos acabados. Muito bom, mas nada novo.
Na segunda e na terça a rotina foi a mesma. Acordei muito cedo para me arrumar e pegar o metrô até o ponto de encontro com a minha carona para o centro tecnológico da Renault, onde conheceria uma série de pessoas novas e teria várias reuniões, em várias línguas, sobre vários assuntos. Fez muito frio estes dois dias, o que fez da minha espera na rua uma aventura a parte. Por sorte tinha um café próximo ao ponto de encontro, onde podia passar um tempo me esquentando com um Au lait.
Não tenho nem como descrever o Technocentre. É um lugar gigante, como se fosse um pólo constituído de vários shopping centers, que abrigam nada menos do que 12.000 profissionais da Renault. É assustador e fascinante ao mesmo tempo. Tudo é novo e a tecnologia dos edifícios, comparada com a que normalmente encontramos em casa, é de ponta. Mais uma vez encontrei várias pessoas que falam português, o que sempre ajuda a quebrar o gelo.
Na primeira noite, depois do trabalho, encontrei a Tati na estação Georgers V da Champs, onde entramos em um Bistrô e jantamos um belo prato de minúsculos Mules Frites. Desta vez não tomei vinho. Depois da janta, uma rápida torta de chocolate com bananas na Brioche Dorée, uma também breve caminhada pela região, e como estávamos congelando, voltamos para o hotel. No outro dia, terça-feira, ontem, depois do trabalho, nos encontramos no hotel e saímos para ver a Torre Eiffel iluminada. Além da iluminação normal, nos 10 primeiros minutos de cada hora, várias luzes brancas ficam piscando em toda a altura da torre, o que proporciona um espetáculo de tirar o fôlego. Jantamos por ali mesmo, com os olhos na torre, como minha despedida de Paris. Talvez esta tenha sido a melhor janta de todas, mas não dá mais para saber a esta altura. Matamos a vontade de mais um prato que já conhecíamos da nossa outra viagem à França, a tradicional Soupe de Poisson, que como o nome dá a dica é uma sopa fresca de peixes, que muda de cor e sabor dependendo da região e dos peixes da época. Estava de lamber o fundo do prato fundo. Realmente acho que eu deveria dedicar minha vida aos trocadilhos. Não são geniais?
É isso aí, depois de comer e beber como um condenado na França, cá estou no avião para a Colômbia, onde imagino que mais aventuras profissio-eno-gastro e talvez desta vez não turísticas me aguardam. A Tati ficou em Paris e já estou com saudades dos dias ótimos que tivemos juntos por lá, ao mesmo tempo estou curioso para conhecer a terra de um de meus ídolos, Garcia Marquez. Nos veremos em breve por aqui.
Gostei mais de voar durante o dia, é mais fácil de relaxar pois não se tem a obrigação de tentar dormir naquele aperto do avião. Pareceu também um pouco mais rápido do que uma viagem transatlântica normal. Quatro filmes e duas refeições depois, estávamos pousando em Bogotá. O esquema de segurança da Renault para visitantes na Bolívia é impressionante. Até para fazer a conexão em Bogotá da ala internacional para a nacional, onde pegaria a conexão para Medellin, existe um encarregado de te acompanhar. Me pareceu exagero, pois as pessoas no aeroporto e na rua pareciam felizes e tranqüilas. Melhor não discutir essas coisas, cada um sabe do país onde vive. A conexão foi mais rápida que a da ponte aérea Rio-São Paulo no Brasil, apenas 45 minutos de vôo. Chegando em Medellin, fui recepcionado pelo responsável de segurança daqui, que me trouxe até o hotel. Como ainda estou no horário de Paris, acordei muito cedo hoje e aproveito para escrever mais um pouco. Hoje é quinta-feira, dia 31 de janeiro e amanhã a noite, depois de duas semanas de correria, finalmente vou para casa. O melhor de viajar, sem dúvida é voltar para casa.
A primeira impressão da Colômbia, especialmente de Medellin, não poderia ter sido melhor. O caminho do aeroporto até o hotel é visualmente fantástico. A cidade fica no meio das montanhas e a descida até o centro da cidade é muito grande. O interessante é que a cidade é espalhada por toda a montanha o que proporciona uma vista noturna muito bacana enquanto se desce as ladeiras ingremes que circulam Medellin.
O hotel fica colado em um grande shopping center da cidade e é, de longe, o hotel mais luxuoso que já fiquei em minhas viagens até hoje. O quarto é umas três vezes maior do que o quarto padrão Ibis e o atendimento é fora do comum. Só me resta me preparar para um dia de agenda cheia no trabalho. Volto depois.
E dá-lhe aeroporto. Para variar não consegui escrever nos dias de trabalho, mas agora, sexta-feira, dia primeiro de fevereiro de dois mil e oito, cá estou em mais uma sala de embarque. Quem falou que os vôos só atrasam no Brasil. O nosso aqui de Medellin para Bogotá está com previsão de atraso de uma hora. Suficiente para escrever o pouco que falta sobre estas duas semanas de correria.
A empresa que visitei aqui em Medellin chama-se Sofasa e é uma sociedade entre Renault (60%) e Toyota (40%). União interessante e que traz para ambas algumas vantagens estratégicas importantes para essa região. Mas, como não estamos aqui para falar de negócios, sobre a empresa só posso relatar brevemente sua interessantíssima história, que já acumula 32 anos. Na maior parte deste tempo, a Sofasa foi dominada por um sindicato local que, segundo dizem por aqui, ia além da intransigência, beirando a guerrilha. A empresa estava à beira da bancarrota devido à atuação deste sindicato, quando os próprios funcionários mobilizaram-se para salvá-la. Exigiram a saída do sindicato e mais, exigiram que a empresa funcionasse sem a presença de nenhum sindicato. O grau de comprometimento, alegria no trabalho e criatividade que existe nesta empresa, nunca vi nada igual. Mesmo agora, com o cancelamento de um turno inteiro de produção e na iminência de uma demissão de grande porte, as pessoas estão motivadas e tranqüilas. Percebe-se a tristeza e fala-se, em todos os níveis, abertamente sobre o assunto. É realmente impressionante. Continuou na minha estada em Medellin a atenção exagerada à minha segurança. Todos os dias fui transportado por pessoal especializado, armado, em carro blindado, pelas ruas da cidade. Por pouco o segurança não me colocou dentro do avião agora pouco quando chegamos ao aeroporto.
Como falei antes, a situação por aqui está muito mais tranquila do que há alguns anos, entretanto, o povo está cada vez menos conformado com os sequestros e a violência da guerrilha. Na próxima segunda-feira haverá em todo o país, e até em alguns países pelo mundo, uma grande marcha de protesto contra a FARC. Vou perder este evento histórico.
Ontem pela noite, por um acesso direto do restaurante do hotel, fui visitar shopping de Medellin. É um lugar tão pitoresco quanto o próprio restaurante. É como se fosse uma série de pequenos shopping centers de rua reunidos em um só. Muito grande e bonito. O povo, como em todos os lugares pelos quais passei por aqui, mais simpático do que o que estamos acostumados no Brasil.
Agora faço um comentário que pode resultar em uma desagradável briga doméstica mas, para o bem do registro, não posso me omitir de nenhum fato percebido. As mulheres da Colômbia são muito bonitas, e todas, com raras exceções, usam próteses de silicone nos seios. Percebi este fato porque, e só porque, fui alertado por um dos seguranças que me transportava na chegada em Medellin. Pronto, fato constatado. Seja o que Deus quiser.
O mesmo senhor que me alertou do silicone, me indicou um restaurante de comida típica aqui da região da Antióquia, onde Medellin se encontra. Claro que fui conferir. Como de costume, não anotei e esqueci o nome do prato, mas basicamente é arroz com feijão claro (duas vezes maior do que o brasileiro, o que é muito esquisito para nós), um pedaço enorme de torresmo, lingüiça, carne moída, abacate e banana. Para ser bem honesto não achei lá grandes cosias. Fico com a nossa feijoada. O que gostei bastante foi da entrada, que também esqueci o nome, mas basicamente é plátano (aquela banana diferente) frito com uma guacamole muitíssimo bem temperada e saborosa. Para acompanhar resolvi experimentar duas cervejas locais, uma chamada Pilsen que parece muito com nossas cervejas comuns do Brasil e outra chamada Club Colombia, que achei um pouco mais forte, mas também mais saborosa e encorpada. Vários “con mucho gusto” depois, entrei no hotel e fui dormir. Hoje foi só trabalho, almoço, que por coincidência foi o mesmo prato típico de ontem, e aeroporto.
Agora só me resta esperar o primeiro de três vôos que tenho antes de chegar em casa, curtir o pequeno Ozzy, esperar a Tati chegar no Domingo, matar a saudades, organizar as coisas e curtir o feriado de carnaval. Ou seja, só me resta a melhor parte.
terça-feira, 11 de setembro de 2007
De táxi ou a pé, de metrô não!! - New York 2007
Desta vez não tinha como adiantar o check-in, pois o hotel estava lotado, de forma que deixamos as malas no maleiro e fomos andar. Descendo a quinta avenida, percebemos uma estranha falta de fila para a subida no Empire State Building. Como não conseguimos subir no predião da última vez, por causa do tamanho da fila e do mau tempo, desta vez não quisemos esperar. Que vista maravilhosa! Tirei tantas fotos, que não sei se sobrou memória no cartão para os próximos dias. O céu sem nuvens e as ruas tranquilas garantiam um visual da grande maçã como poucas vezes se consegue. A cidade que nunca dorme, dormia, com excessão dos turistas que acordaram cedo para subir ao observatório do octagésimo sexto andar e ter o seu momento King Kong.
Como ninguém é de ferro, e a lista de encomendas é grande, resolvemos dar uma passada no B&H, aquela loja enorme de eletrônicos, para diminuir um pouco a lista. Não resisti e comprei o notebook, no qual digito agora estas primeiras linhas da nossa aventura, e que vai me poupar de passar tudo o que seria anotado em bloquinhos do hotel a limpo, quando voltarmos para casa. Como liberaram o quarto, a Tati veio tirar uma pestana. Eu não consegui.
Assim que ela acordou, arrumamos as malas, tomamos um belo banho e saímos andar pela quinta avenida. Subindo-a em direção ao Central Park, passamos pela festa do Brazil, que acontece todo ano por aqui. Para falar a verdade, não viemos tão longe para matar a saudades do país que deixamos ainda ontem; passamos reto. Rápida parada no Rockeffeler Center para umas fotos, entramos na St. Patrick’s Cathedral, e continuamos a subida. No pé do Central Park, eu quis entrar na loja da Apple só para dar uma olhada no famoso i-phone, que estou louco para ter, mas ainda não funciona no Brasil. Não sei porque eu fiz isto. O aparelhinho é espetacular, e agora vou ficar sonhando com ele até poder comprar um. Sonhos eletrônicos a parte, entramos no parque para uma volta. A Tati tinha uma dica de que a melhor maneira de dar uma volta rápida pelo parque é contratar um bicicleteiro com lugar para duas pessoas. Assim o fizemos. Eu esqueci o nome do nosso amigo motorista da bicicleta, mas ele nos cobrou 45 dólares para o passeio completo, incluindo o Strawberry Fields e Dakota, edifício onde Lennon foi assassinado. Passamos também por vários cenários de filmes famosos e a fonte d’água onde foi fimada a clássica abertura do seriado Friends. Até hoje, um dos passeios mais legais que já fizemos em Nova Iorque. Fantástico, com destaque para a simpatia do nosso amigo Africano.
Descemos a Broadway, parando aqui e ali, tomando mais cafés no Starbies, comprando chocolates na Hershey’s e esbarrando em milhares de pessoas até chegarmos ao coração da Time’s Square, quando entramos para jantar no Hard Rock Cafe. É claro que uma compra na lojinha do restaurante é inevitável, então fizemos duas. Uma camiseta para cada. A janta estava ótima, apesar de extremamente apimentada, como adoram por aqui. Para quem quase não dormiu durante o vôo da noite anterior, já fizemos muito para o primeiro dia. Hora de voltar andando para hotel, para aproveitar a noite gostosa de fim de verão, e descansar um pouco.
Acordamos cedo até, pouco mais de oito da manhã. A cama do hotel é ótima, e o sono foi profundo, coisa rara para a primeira noite. Tomamos um café da manhã no Starbucks, claro, e fomos subindo a quinta avenida, como quem não quer nada, olhado as lojas no caminho do Central Park. Acabamos na loja da Nike, Niketown, que é muito bacana. Entramos na loja da Armani, entre várias outras no caminho do Zoológico do Central Park. Como a entrada era paga, e nem eu nem a Tati somos os maiores entusiastas da vida selvagem, resolvemos deixar para a próxima. Fomos explorar as outras atrações do East Side, entre elas uma loja de caixinhas de música, que estava fechada. Como estava chegando a hora do almoço, e o Cafe Lalo era teoricamente próximo, lá fomos. Vale notar que o Zoológico é na altura da rua 57, enquanto o Cafe Lalo está na rua 83, o que significa 83-63=20 quadras de caminhada, o que não é pouco para ninguém, ainda mais depois de já termos andado tanto no primeiro dia, e na manhã deste segundo. Digo tudo isto para justificar que, quando descobrimos que o Cafe Lalo não era o número 201 Leste da rua 83, mas sim o Oeste, pegamos um táxi.
Que delícia de restaurante. Uma salada deliciosa de atum, com snobar, hortelã fresca, azeitonas, folhas e um vinagre especial feito na casa não fizeram frente às deliciosas tortas que comemos de sobremesa. Uma maravilha, além é claro, do fato do local ter sido cenário de uma famosa passagem do filme Mensagem para Você, com Tom Hanks e Meg Ryan. Precisava ir para o hotel, pois a comida apimentada da noite anterior ainda castigava meu estômago. Pegamos mais um táxi. Viramos uns preguiçosos no que diz respeito a metrôs. Ou andamos que nem uns loucos, ou, como preconizou a Angélica, vamos de táxi. Desculpem, não resisti. Foi uma passagem rápida no quarto do hotel antes de descermos para a Grand Central Station. Nosso objetivo era chegar mais rápido na Macy’s, mas entrar nesta que é a maior estação de metrô da cidade foi talvez o mehor passeio do dia. O lugar é tão bonito que parece um castelo europeu, com lustres enormes, tetos pintados, gárgulas nas paredes e um monte de bobos da corte, correndo para todos os lados. Resolvemos não pegar o trem e ir andando até a Macy’s. A loja dispensa comentários, e os indispensáveis já foram feitos no relato da viagem de 2005. Perfumes, camisetas, óculos, sim, saímos de lá com alguns de cada. Mais um táxi até o hotel, pois precisamos recuperar as energias para o espetáculo da Broadway. Mamma Mia, que dia corrido.
Nós já vimos o Fantasma da Ópera e Chigaco da outra vez, mas nenhum chegou aos pés de Mamma Mia. Pode parecer empolgação de quem acabou de ver a peça, mas o fato é que nenhuma das outras duas tem uma história tão alto astral e com a trilha sonora tão bacana como esta. A banda estava perfeita, com uma maestra muito bacana e participativa. No final da peça, a banda e os atores ainda voltaram para um bizz de 3 das músicas tocadas no show. Tão bom que tivemos que jantar bem. Voltamos ao John’s Pizza, onde estivemos em 2005 depois do Fantasma da Ópera. Depois de um prato gigante de um spaghetti à bolonhesa dos melhores, fomos para o hotel dormir.
Quando eu já estava me arrependendo de ter agendado a visita no escritóriio da Toyta, pude ver atrás da recepcionista da empresa a melhor vista que pode existir do Central Park. É, de longe, a coisa mais impressionante que eu já vi. O edifício é na rua 57, no pé do parque, e a recepçao do escritório da Toyota, que fica no quadragésimo nono andar, tem enormes janelas donde se vê todo o parque, além de toda a parte norte de Manhattan, de leste a oeste. A visita em si foi rápida e superficial, apesar da hospitalidade da minha anfitriã, que no final da visita me deu ingressos para mim e para a Tati, para o MoMa e o Museu de História Natural. Quando a perguntei sobre a recém conquistada liderança da Toyota nas vendas mundiais de automóveis, ele fez pouco caso da conquista, como se fosse uma coisa temporária e sem importância, a mesma atitude do presidente da Toyota quando a ele a mesma pergunta foi feita. Na Toyota, até as respostas são padronizadas.
Depois da visita, fui encontrar a Tati na Bloomingdale’s, onde fizemos algumas pequenas compras e almoçamos uma magnífica salada de Carangueijos do Alasca no 40 Carrots, um restaurante muito simpático e colorido, que reclama o título de ser o precursos do Frozen Yogurt em Nova Iorque, que aliás é muito bom. Mais um repeteco da viagem anterior.
Saímos da Bloomingadle’s à procura de uma loja de mapas antigos sobre a qual lemos em um guia de lugares curiosos da cidade. Nada. No endereço indicado, uma joalheria. Decidimos voltar na loja de caixinhas de música da Rita Ford, que nem é mais da Rita Ford, e que desta vez estava aberta. A loja é por demais simpática, e a 20 anos não pertence mais à Sra. Ford, mas sim a um senhor, seu filho e seu pai, cujos nomes não me dei ao trabalho de perguntar, e agora faltam para ilustrar o texto. Tanto faz, pois o mais importante são as jóias musicais que se encontram nesta loja, estas sim registradas para sempre através de várias fotos e um exemplar que conseguimos comprar.
Como haviamos acordado muito cedo, e estávamos muito cansados, pegamos um táxi para o hotel e descansamos por algum tempo. Nossa próxima parada era a biblioteca pública de Nova Iorque, um prédio muito bonito do lado de fora, e ainda mais impressionante do lado de dentro. Circulamos pouco pelo local, mas o suficiente para conhecer algumas salas de leitura, enormes e cheias de livros, que na verdade é o que se espera de uma biblioteca. O que eu não esperava era ver a quantidade de computadores de última geração, com acesso à internet, disponível sem custos para o público em geral que se pode encontrar em várias salas diferentes do local. E o nosso presidente falando em inclusão social e notebooks de cem dólares. Dureza.
Saímos da biblioteca e demos uma parada no Bryant Park, que fica logo atrás, para umas fotos e uns drinks em um lugar muito bacana que fica grudado com as paredes de trás da biblioteca. A Tati tomou uma taça de Chardonay, eu um suco de Cranberry. Foi um belo relax, com uma vista muito bacana do parque, que tem na sua ala sul um dos prédios mais bonitos de Nova Iorque, que eu não sei o nome, mas parece feito de chocolate preto, com cobertura de chocolate branco em algumas partes. Já tenho umas vinte fotografias deste prédio, mas não canso de tirá-las.
Depois dos drinks, fomos andando até a Times Square. Deu uma loucura na Tati de cortar o cabelo no estilo das meninas da cidade e antes de entrarmos na Toys’R’Us para achar uma lembrancinha para a Júlia, paramos em uma loja da Sephora, para perguntar onde poderíamos achar um salão para a Tati. Sephora, Toys’R’Us e Virgin Mega Store na sequencia, alguns dólares a menos no bolso e a Tati já havia desistido de cortar o cabelo. Como já estava anoitecendo e haviamos comido apenas uma salada no almoço, resolvemos jantar em grande estilo. Depois de dois anos sonhando com o este dia, e me arrependendo de não ter pedido a lasanha que a Tati pediu, a ordem para o motorista do táxi não poderia ter sido outra, falamos em uníssono, “Five Bleecker Street”. Isso mesmo, lá íamos nós para o Bianca’s. Dispensa comentários, ou melhor, não dispensa nada, é a melhor lasanha que se pode comer na face da terra, é verdade, e os italianos que me desculpem, esta lasanha nao tem falhas, a quantidade certa de molho, a temperatura certa, queijo na medida, tudo como tem que ser. Perfeição.
Voltamos para o hotel cheios e felizes, loucos para dormir, como diria um amigo meu, que nem umas pedrinhas. Se eu contar que o Pedrinha (éclaro que ele ganhou este apelido) ligou no meu celular quando chegamos ao hotel vocês não vão acreditar. Então não vou contar. Boa noite.
PEQUENA PAUSA PARA IMPRESSÕES GERAIS SOBRE A CIDADE:
Nova Iorque parece um pouco mais suja que das outras vezes, pelo menos aqui na MidTown. As pessoas estão com mais pressa, e um pouco menos simpáticas, de maneira geral. Se você quiser saber se uma menina é daqui, óculos enormes e vestidinho parecem ser a moda local neste verão. O povo está fumando bastante por aqui, pelo menos é o que parece. Verde é a cor que está na maioria das vitrines. Os taxistas estão em greve, mas só alguns, e só por dois dias. Só isso.
Acordamos tarde novamente neste quarto dia de viagem. Parada rápida para um mini breakfest no Starbuck’s e a loucura da Tati de cortar o cabelo reapareceu quando passamos por um salão. Foi ali mesmo. Acordei com uma esposa cabeludona, e passei o dia com uma feliz da vida com seu novo corte moderninho, à New York. Enquanto ela cortava o cabelo, corri até o teatro Minskoff para comprar ingressos para o Rei Leão, ainda para esta noite.
Depois do salão saímos andando, eu e a nova Tati, em direção ao Garden para pegar os ingressos do show de sexta-feira do Damien Rice. Ingressos na mão, resolvemos arriscar nosso primeiro metrô da viagem. Destino: Soho. A visita a este bairro, famoso por suas lojas moderninhas e seus habitantes descolados foi surpreendente. Não esperávamos muito, mas acabamos curtindo bastante. Entramos em várias lojas conhecidas, e que ainda não conheciamos, como a Pottery Barn e a Body Shop, e em várias outras menos conhecidas e bem mais interessantes como uma chamada SoHome, com artigos de decoração muito originais e interessantes. No caminho para o bairro Village, passamos pela Universidade de Nova Iorque antes de chegarmos ao local onde almoçariamos. Gray Papaya’s é onde comemos cada um uma dupla de hot-dogs com sucos exóticos. Muito gostoso, mas não muito diferente dos hot-dogs de rua. Me decepcionei um pouco, mas acho que minha expectativa estava exagerada, afinal, cachorro quente é cachorro quente. Depois da comida, resolvemos parar por alguns minutos para descansar na Washington Square, onde vimos um artista tocando violoncelo com os dedos e cantando rocks contemporâneos. O cara é um bruta artista, tem uma voz ótima, e estava tocando na rua.
Como estávamos no Village, resolvemos fazer os programas que haviamos listado para este bairro. Um deles, é claro, era visitar novamente o prédio que serviu de fachada para a casa da maioria dos personagens do seriado Friends, nosso favorito de todos os tempos. A Tati reparou que o prédio não tem sacada, apesar deles sairem o tempo todo para a sacada nos episódios do seriado. Coisa de fã, não os deve interessar muito.
Ali pertinho, entramos na Matt Umanov Guitars, a loja de guitarras mais famosa dos Estados Unidos, e possivelmente do mundo. O cara que nos atendeu era um figurão grisalho e de mullets, um tanto irônico e que me deixou tocar uma Fender Stratocaster 1977. Que delícia de guitarra, e que som maravilhoso. Em um display da loja havia uma Fender dos anos 60, que segundo ele havia acabado de ser fabricada, por um artista sozinho, e que simulava uma guitarra antiga. Ainda não sei se acredito no cara, ela parecia muito usada, até com batidas e lascas arrancadas da madeira. Vai saber. Vou pesquisar mais tarde.
Antes de pegarmos o metrô de volta para o hotel, paramos em uma confeitaria que descobrimos em um site indicado por uma amiga. A Magnolia é um lugar minusculo, onde fazem uma fila enorme para saborear os deliciosos cup cakes que saem dos fornos a cada minuto. Comemos alguns na rua, lambuzando os dedos e sabendo que vamos nos arrepender de não termos comprado mais. Agora sim, missão cumprida, hora de voltar para o Hotel.
Descançamos um pouco, nos arrumamos e fomos para o teatro. O Minskoff é um teatro enorme, bem no coração da Times Square, onde estava passando a peça Fiddler on the Roof, nas últimas vezes que eu estive aqui. Sempre tive vontade de ver uma peça lá, e o Rei Leão fez ultrapassou as minhas expectativas. De todas as peças da Broadway que já vimos, esta foi sem dúvida a mais forte, no visual e na música. O começo da peça, com todos os animais entrando em cena para homenagear o nascimento do filho do rei, é de tirar lágrimas. Difícil explicar em palavras o que vimos por duas horas e quarenta minutos de show, mas minhas mãos estão doídas com a força dos aplausos que a peça arrancou de mim e de todos no teatro. Um show revigorante. Pensei muito na Julinha durante a peça, e na carinha dela assistindo àqueles bichos falantes e cantantes, mesmo que ela não entendesse uma palavra, que na verdade são menos importantes nos caso desta peça.
Jantamos uns burgers no Hard Rock Cafe, compramos lembranças para os irmãos no Bubba Gump, e fomos dormir. Já estamos na metade da viagem, e o tempo está passando mais rápido do que gostaríamos, é claro.
Que dia hoje! Nosso quinto dia de viagem, e ainda não perdemos o pique. Amanhecemos tarde novamente, saímos do quarto perto das dez da manhã. Hoje é quinta-feira, dia seis de setembro de 2007. Fomos novamente subindo pela quinta avenida em direção ao Central Park. Nossa idéia era terminar no MoMa para aproveitar um dos ingressos que ganhamos na minha visita ao escritório da Toyota. Não deu tempo, pois fomos parando tanto pelo caminho que quando chegamos perto do museu, já era hora do almoço.
A parada mais legal e demorada que fizemos foi no Rockeffeler Center. Desta vez andamos por tudo. E que lugar! O mais legal que em por lá hoje é o circo montado graças ao US Open, que está acontecendo nesta semana. Tem arquibancadas com os jogos passando ao vivo em telões enormes, que fazem você se sentir como se estivesse em Flushing Meadows assistindo aos jogos. Tinha também uma mini quadra montada, com filas enormes para jogar uma bela partida de tênis virtual, com o novo brinquedinho da Nintendo, o Wii. Fiquei de boca aberta com a novidade, ainda inacessível. Ali mesmo, no 30 Rock, entramos na loja da NBC, rede de televisão produtora de vários de nossos seriados favoritos, entre eles o melhor de todos, Friends. Entre a camiseta do Smelly Cat e a do Joey, com os dizeres “How you doin’”, fiquei com a segunda, mas tirei uma foto do probre gatinho fedido da música da Phoebe. Divertido!
Subimos mais um pouco e chegamos na rua 57, pertinho do prédio onde visitei a Toyota. Nosso alvo era o hotel Park Meridien, que abriga em um canto escondidíssimo, um pequeno restaurande de hamburgueres, que nem nome tem, mas tem o melhor burger que eu já comi na minha vida. Suculento, temperado na medida, fervendo e delicioso. A fila é enorme, com gente en gravatada esperando para comer uma daquelas delícias. Pela ausência de turistas no local, logo deu para imaginar que algo muito bom nos aguardava. As assinaturas de gente famosa na parede comprovavam que em termos de hamburger, poucos devem ser tão bons por aí. Devoramos os sandubas e saímos em direção ao hotel. Era quase duas da tarde. Antes do hotel, apenas mais uma pequena parada na loja da Apple para namorar o i-phone mais uma vez, e comprar algumas encomendas do meu irmão mais novo.
Andamos até o hotel para tomar um belo banho, pois iriamos passar o resto do dia no Meat Packing Disctrict. Assim o fizemos. Sem brincadeira, este foi o lugar mais fashion, e com mais gente descolada que já estive em minha vida toda. Além do fato de estamos na Semana da Moda em Nova Iorque, e o lugar estar cheio de modelos, a região é realmente caprichada. Fica um pouco acima do Village, perto do rio Hudson, e consiste de uma meia dúzia de quadras entopetadas de lojas de roupas, restaurantes e galerias de arte. É meio difícil de descrever, mas o lugar é de tirar o fôlego. Uma loja diferente da outra, com decorações super caprichadas e peças realmente diferentes. Os restaurantes são para todos os gostos. Para se ter uma idéia, conseguimos comer, em um restaurante chamado Pastis, um prato de mariscos preparados com manteiga, cebola e vinho branco, acompanhados de batatas fritas, exatamente iguais aos famosos Moules au Vin Blanc da região do Mediterrâneo do sul da França. De lamber os dedos. Das lojas, duas chamaram atenção, uma da Puma, chamada The Black Store, onde as peças são desenhadas por estilistas famosos para a Puma, e confeccionadas sob medida. Outra loja muito bacana é a Ed Hardy, uma loja de roupas com estampas do estilo tatuagem, super originais e igualmente caras. Esqueci de mencionar que antes de tudo isso, paramos na Little Pie Company, onde comemos tortas de maçã e amoras deliciosas. Fica realmente difícil contar com mais detalhes tudo o que vimos nesta tarde de Meat Packing District, uma região que antigamente era um mercado de carnes ao ar livre e que nos últimos anos ganhou status de região mais descolada da cidade.
Pegamos um táxi, que considerando a greve que ainda persiste até que foi fácil de conseguir, e terminamos o dia com mais uma sessão de Times Square. Não dá para enjoar destas luzes alucinadas. Amanhã o grande dia. Damien Rice no Garden. Nos vemos em breve.
Achei que desta vez estaríamos livres, mas foi pura ilusão, nossos pés estão nos matando. Pegamos um metrô direto até a prefeitura. Andamos um pouco pelos parques e tiramos fotos da bonita fonte que ornamenta a casa do prefeito Bloomberg. Atravessando a rua, estávamos no pé da ponte do Brooklin. Mesmo com o calor infernal, atravessamos a ponte a pé, tirando várias fotos. Achei que a Tati nao iria aguentar de tanto calor e dor nos pés, mas a baixinha é forte. Quando chegamos no Brooklin, pegamos um táxi e descemos direto na Mulberry Street, no meio da Little Italy, onde pude exercitar meu italiano. Comemos uma salada e uma pizza em um dos restaurantes da rua. Andamos um pouco pelo bairro e pegamos um metrô para as proximidades do Bryant Park. A estas alturas não conseguiamos mais nos mexer de tanto calor e dor nos pés. Mesmo assim circulamos mais um pouquinho e fomos para o hotel a fim de nos prepararmos para o show do Damien Rice.
O show foi no teatro WaMu, dentro do Madison Square Garden, um lugar pequeno e sem grandes ostentações. Por um erro de cálculo, comprei ingressos para a pista, o que sifnifica que ficaríamos em pé durante todo o show. Por sorte, existem duas fileiras de cadeiras reservadas para quem comprou ingresso para a pista, e foi lá que ficamos. O show foi surpreendente para falar o mínimo. Para quem esperava um show intimista, calmo e fiel às gravações dos discos, uma grande surpresa estava reservada. Em mais de duas horas de show, este baixinho e timido artista mostrou que sabe improvisar, tem um carisma fora do comum, explorando sua timidez como ponto a favor, e faz um som de primeiríssima categoria. Nada de som calminho aqui, o show é uma porrada sonora que eu não senti nem no show do Sepultura em Curitiba, e não estou exagerando. A primeira parte do show foi pautada por músicas dos dois primeiros discos, em versões poderosas, com mais bateria do que as gravações originais e sem a vocalista que normalmente acompanhava o Damien nas gravações e shows do cantor. O destaque fica para uma versão absolutamente fantástica de Volcano, ligada a 9 Crimes, do disco novo, por um sequenciamento da voz do Damien com as frases finais de Volcano ecoando nos PAs. Na segunda parte do show, a coisa ficou ainda mais visceral. Improvisos, versões enormes e barulhentas de músicas conhecidas, solos de bateria e vocal distorcido marcaram esta parte, que foi separada da primeira por um solo da violoncelista, com vocal dela mesma, em uma música bobinha que levantou os animos da audiência, até então hipnotizada pela beleza da primeira parte do show. Como a banda se empolgou na segunda parte, sobrou para o bizz apenas a Blower’s Daughter, que não poderia faltar, afinal, além de ser o hit máximo do Damien, é uma das melhores músicas já escritas, apesar de ter tocado exageradamente nas rádios e de alguns artistas terem assassinado a música com versões idiotas em português. Um show memorável, mais um para a coleção de shows memoráveis.
Como já estávamos descançados e morrendo de fome, andamos até a Times Square para conhecer o restaurande Bubba Gump, baseado no filme Forrest Gump e que serve, é claro, camarões. O lugar é muito bacana, com um pessoal muito animado servindo, drinks enormes e deliciosos. Pedimos um camarão no bafo com molho de alho picante. Mais um delícia para ficarmos lembrando quando voltarmos para casa. Voltamos nos arrastando para o hotel. Amanhã é o último dia inteiro em Nova Iorque.
Acordamos tarde, para variar, paramos para um café rápido no Starbuck’s e pegamos um táxi direto para a Bloomingdale’s, a Tati ainda precisava fazer umas últimas comprinhas, e queriamos repetir a dose do frozen yogurt no 40 Carrots. Até que ficamos um bom tempo na loja, visitamos sessões bem legais de artigos para casa e escritório, tudo, é claro, extremamente caro.
Quando cansamos da Bloomings, pegamos um táxi e pedimos para ele descer a quinta avenida, até uma quadra antes dela cruzar com a Broadway. Desta vez o Flatiron Bulding estava sem a capa preta que protegia os pedestres das reformas que estavam em andamento 2 anos atrás. Assim fica bem mais bonito. Tiramos várias fotos e curtimos bastante o visual antes de pegarmos o metrô para Wall Street.
Descemos exatamente do lado da Trinity Church, o local mais difícil de fotografar de Nova Iorque, pois como fica bem no final, ou começo, da Wall Street, quando se consegue ânguo suficiente para enquadrá-la por completo, os prédios da Wall Street começam a encobrir a igreja. Andamos por alí, tiramos fotos da rua, do famoso touro de Wall Street, que simboliza o mercado em alta, almoçamos cachorro-quente e fomos andando até o Battery Park.
Já sabíamos que desta vez não encarariamos o ferry até a estátua da liberdade, mas quando vimos o tamanho da fila, e as pessoas fritando debaixo daquele calor de uns 30 graus, tivemos certeza. Passeamos bastante por ali, tiramos várias fotos, descansamos um pouco e pegamos um táxi direto para o MoMa. No caminho, pedi para o taxista passar pela esquina da terceira com a 53 para uma foto homenagem a uma das melhores músicas da banda mãe do punk rock, os Ramones.
Talvez eu esteja sendo menos detalhista agora, mas final de viagem é assim, além do mais, hoje visitamos várias coisas que já conhecíamos. Não o Moma, este é novidade. Tem muita coisa bacana para se ver neste museu, mas tem muita coisa que não consigo entender como arte, a não ser pelo fato que se está ali onde está, deve haver algum motivo. Vimos peças interessantíssimas do Picasso, Braque, Warhol, Pollock, Beckmann, entre outros menos conhecidos para nós. Também, confesso que não ficamos tempo o suficiente para entrar no clima do museu. Nossos pés já não são os mesmos de 6 dias atrás. Mesmo assim, voltamos andando para o hotel, que não é muito longe do MoMa. Não tem como resistir à quinta avenida. Mais fotos no caminho, com direito a saída da noiva na St. Patrick’s Church.
Depois do tradicional pit stop no hotel, pegamos outro táxi para o Village. Quando o taxista começou a cantar em árabe, a plenos pulmões, achei que tinha chegado nossa vez. Não era nada, ele só estava cantando (literalmente) a namorada do outro lado da linha. Aqui todo mundo parece louco, pois usam aqueles fones de celular embutidos no ouvido e começam a falar do nada, sozinhos, mas com alguém do outro lado. Descemos na frente do restaurante do prédio dos Friends, mas a fila de espera era de quase duas horas. Resolvemos andar até o Bianca. Existe maneira melhor para encerrar o último dia de viagem? Antes de conseguirmos uma mesa, tomamos uns drinks no boteco do lado do restaurante, daqueles de filme. Escuro, podrão e cheio de gente bacana. Vieram nos buscar de dentro do bar, nossa mesa estava livre. Desta vez a dupla de lasanhas veio acompanhada de uma bela garrafa de vinho Italiano, casais de namorados de todos os lados e um belo capuccino na saída. Quase que o dinheiro não deu, pois eles não aceitam cartões no Bianca. Táxi, xixi e cama.
Oitavo dia hoje, Domingão, o dia da volta para casa. Confesso que já estou com saudades. De Nova Iorque, é claro. Como ainda não tinhamos tomado um verdadeiro breakfast em um dinner típico, hoje ao invés de Starbucks, fomos ao Andrews. Foi daqueles com direito a ovos, bacon e café com refil à vontade, bem americano. Resolvemos economizar um pouco e pegamos um metrô que nos deixou direto no Columbus Circle, no pé do Central Park. Tinhamos conseguido com o Alfredo um late checkout, e nossa idéia era curtir o parque até a hora de voltar para o hotel para terminar as malas. Assim o fizemos, circulando por tudo o que já conheciamos da outra viagem, desde o monumento da Alice no País das Maravihas até o Guggenheim, passando, é claro, pelo Metropolitan.
Saindo do parque pegamos um táxi para o hotel, tomamos banho, arrumamos a mala e descansamos um pouco. Saímos perto das três da tarde para nossa última e não menos importante missão, o Museu Americano de História Natural. Tour completo, com dinossauros, planetário, povos antigos, bichos, o suficiente para terminar de arrebentar o meu pé, que está doendo até agora, enquanto vou terminando o relatório de mais um viagem deliciosa com minha querida, no meio do Atlântico, louco para chegar em casa.