Depois de 15 horas de jornada entre a porta de casa e a porta do hotel, chegamos em Nova Iorque. Como nem eu nem a Tati conseguimos dormir em aviões, assim que conseguimos um quarto a Tati foi tirar uma soneca. Eu nem tentei, peguei a mochila e sai explorar as redondezas do Pennsylvania Hotel. Hoje é dia 9 de outubro de 2005, Domingo, dois dias depois de termos nos desesperado em Curitiba com a ameaça de ataques terroristas ao metrô de Nova Iorque, mais especificamente à estação Pennsylvania, logo ali, atravessando a rua do hotel onde estou sentado agora escrevendo este diário.
Não choveu quase nada hoje de tal maneira que, assim que a Tati acordou, fomos andar. Primeira parada, Starbucks. Um caramel machiatto e um brownie para mim, um glazed donut e um latte para a Tati. Não é síndrome de turista, mas este brownie é a melhor “coisa” de chocolate que eu já comi. Sério. Depois fomos comprar nossa câmera digital. Sim, esta é nossa primeira câmera digital. A loja chama-se B & H e pelo que percebi ela recebe pessoas do mundo tudo em busca de equipamentos profissionais de fotografia a preços muitíssimos baixos. A loja é de uma família judia e todos os atendentes, e são muitos, usam as vestimentas típicas.
Agora turistas completos, fomos circular na Macy´s, a famosa loja de departamentos, a uma quadra do hotel. Foi uma visita curta, pois foi apenas a primeira de várias, mas já deu para perceber que vai faltar dinheiro, ou sobrar contas na volta. Voltamos deixar as coisas no hotel e já saímos novamente. Desta vez andamos até o Empire State Building, subimos a quinta avenida até a 42nd e seguimos até a Times Square. Como estive aqui há um ano, só fiquei completamente de cara desta vez. Mas a reação da Tati foi indescritível, muito mais legal foi ver a alegria dela ao ver o show de luzes, cores e informações da Times Square do que qualquer outra coisa que possa acontecer nesta viagem. Talvez na terça-feira, no show do U2, eu mude de opinião.
Entramos no Hard Rock Café para almoçar e, apesar da grandiosidade, não foi muito diferente dos padrões HRC, com exceção da demora absurda para chegar o nosso pedido. De lá subimos a rua até o Central Park, no caminho entramos no prédio da CBS, onde é gravado o show do David Letterman. Nos inscrevemos em uma espécie de sorteio para participar da gravação do programa amanhã e adivinhe, fomos chamados, mas esta história eu conto depois. À partir daí, como eu estava há 36 horas sem dormir, não lembro de muita coisa. Após andar na rua ao lado oeste do Central Park, pegar um táxi até a loja da Virgin, ficar assustado com o tamanho e o peso do livro que o Fabian encomendou, tirar na bilheteria os ingressos para o Fantasma da Ópera, andamos até o hotel e fomos dormir. Era 5 e meia da tarde. Agora, treze horas depois, como o sono em dia, vou subir e acordar a Tati para mais uma maratona.
Hoje é dia 10 de outubro, segundo dia em Nova Iorque e meus pés já estão com bolhas. Como acordei às 6 da manhã, dormi um total de 13 horas. Isto somado aos 25 cafés que eu e a Tati tomamos hoje, vai me deixar acordado por muito tempo. Hoje o dia foi tão legal que a Tati já deu uns 4 saltinhos de alegria, daqueles de filmes muito antigos. No manual do turista neurótico, capítulo 1, existe uma regra que diz que você deve voltar mais uma vez em cada lugar visitado, na mesma viagem, para matar a saudades antes de te-la. Fizemos isto hoje. Fomos na B & H e compramos um aparelho de DVD. Fomos na Macy´s para arrematar um relógio muito legal para o escritório novo. Passamos no Empire State Building, mas tinha tantas nuvens no topo do predinho que a visão ficaria prejudicada. Subimos a quinta avenida novamente e paramos na biblioteca da cidade, que estava fechada. Atrás da biblioteca tem um parque muito bacana, chamado Bryant Park, simplesmente lindo, ficamos ali um pouco e seguimos para a igreja de St. Patrick. Estava tendo um desfile do dia de Cristóvão Colombo e apesar de ter sido bem legal ter visto um pouco, chegar na igreja tornou-se missão impossível. Tiramos umas fotos de longe e fomos até o Rockfeller Center ver o povo patinar. Ficamos um pouco por lá e seguimos para o Central Park. No caminho, comemos os primeiros de vários hot dogs.
Andamos no parque por horas, passamos pelos pontos principais, tomamos uma cerveja em um bar na beira do lago, vimos esquilos e um pessoal jogando beisebol no gramado do parque. Uma das coisas mais legais do central park é a vista dos prédios da cidade lá de dentro. Muito legal mesmo, tirei fotos ótimas de lá. Como é humanamente impossível andar por todo o parque, nos demos por satisfeitos e seguimos o caminho de volta, mesmo porque já estava chegando a hora de nos apresentarmos para a equipe do show do David Letterman para retirarmos nossos ingressos. Fomos descendo a quinta avenida até a altura do teatro da CBS e entramos à direita para chegarmos na Broadway. Conseguimos os ingressos depois de esperar um pouco na fila, e como estávamos muito cansados e ainda faltava mais de uma hora para o show, fomos procurar um Starbucks para tomarmos um café e descansarmos os pés. Voltamos para o show. O cara é uma figura, ele entra no palco um pouco antes de começar a gravar para falar com o público e fazer um aquecimento. A banda é muito boa mesmo e o Paul também é uma figura ao vivo. O show que assistimos seria o show da sexta-feira, que tem menos entrevistas e bastantes quadros um tanto sem graça. Apesar disto, as entrevistas com a atriz Selma Blair e com o diretor Barry Sonnenfeld foram muito boas. Valeu muito participar deste evento, ainda mais com custo zero, porque mesmo com o dólar a dois reais e vinte centavos, zero é zero. Saindo dali entramos no restaurante ao lado, a pizzaria do Ângelo. A Tati comeu um espaguete ao sugo, segundo ela maravilhoso e eu comi um macarrão com frango e manjericão, segundo eu maravilhoso também. Eu não ia ficar para trás. O vinho foi um Batasiolo Barbera D´Asti 2003, nada memorável, mas acompanhou muito bem os pratos escolhidos. Breve andada na Times Square e cama. Lá se foi o segundo dia. Em viajem boa é assim, os dias acabam bem antes do ânimo e muito depois dos pés.
Hoje é dia do show do U2. Não vou dizer que este é o motivo da nossa vinda para Nova Iorque, mas quando soubemos que teria o show bem na semana que estaríamos aqui, a ansiedade para a viagem aumentou consideravelmente. Após o agora tradicional Starbucks, pegamos um táxi com o objetivo de achar o prédio dos Friends. Como somos dois fanáticos pela série e não temos vergonha na cara, ficamos andando na chuva pela rua Grove no West Village atrás de um endereço falso que eu consegui na internet antes da viagem. Na verdade era um endereço semi-falso, pois o número não existia mas a rua era aquela. Depois de termos quase desistido de andar na chuva com nossas micro sombrinhas, a Tati meio que no palpite meio que no desespero achou um prédio parecido, que ela tem certeza que é o deles, e tiramos uma foto. Missão cumprida. Quem é que eu estou querendo enganar, o prédio era o do seriado, eu sei porque nós já voltamos para Curitiba e, com exceção dos dois primeiros dias, este diário foi gravado e está sendo agora transcrito. Achei um toldo para me esconder da chuva, num ato de puro cavalheirismo, enquanto minha querida esposa estava no meio da rua, segurando a sombrinha como podia e conseguindo um táxi para nós. Táxi conseguido e alguns pontos a menos com a Tati seguimos para o Metropolitan.
O museu é enorme, menor que o Louvre, mas ainda assim impossível de conhecer em apenas um dia. Tem de tudo lá, a sessão egípcia, os pintores europeus de todas as fases, arte americana e assim por diante. Ficamos o quanto agüentamos e um pouco mais. Como ainda era cedo e a chuva tinha parado, resolvemos andar. Primeiro subimos um pouco mais até o museu Gugenheim, entramos, demos uma olhada na arquitetura e resolvemos descer a quinta avenida até onde agüentássemos. Se você quer se sentir pobre, mas pobre mesmo, ande pela quinta avenida. Todas as grandes lojas de grife estão por lá, desde a joalheria Tiffany´s até uma loja exclusiva da Armani. Com os pés arrebentados, mas sem querer perder um minuto da diversão, voltamos andando para o hotel. Ainda era bem cedo mas queríamos nos recuperar para o show do U2, que foi tão emocionante e inesquecível que eu fiz um texto só sobre o show. Aqui só vou dizer que já valeu a viagem. Depois do show, acabados e extasiados, voltamos para o hotel. Na verdade a Tati voltou para o hotel eu fui à caça do último cachorro quente do dia, às duas da manhã.
Dia 12 de Outubro, o primeiro dia de chuva. Ao sair para o café da manhã percebemos que o dia seria um pouco complicado, com a chuva não tão forte mas constante e o vento, este sim, forte e em todas as direções. Como nosso repertório de atrações com teto ainda era grande, fomos direto para o museu de história natural de Nova Iorque. Ficamos maravilhados com a grandiosidade e a diversidade do museu. Obviamente o ponto alto do museu são os esqueletos de dinossauros e o planetário, apesar de não termos pago os dez dólares extra para este último. Andamos no museu por toda a manhã e fomos conhecer a loja Bloomingdale´s. Lá almoçamos uma comida light no restaurante subterrâneo, a Tati comprou uma armação de óculos, andamos um pouco pela loja e fomos até a Toys´r´Us, a famosa loja de brinquedos da Times Square. Gastamos mais um pouquinho em presentes para a Júlia e no meu Darth Vadder cabeça de batata, que hoje alegra meu escritório, e fomos para o hotel. Como a chuva tinha atrapalhado um pouco os planos do dia, resolvemos termina-lo em grande estilo, com um jantar em algum restaurante de nova-iorquinos. Pesquisamos um pouco e encontramos um restaurante italiano chamado Bianca, no coração do Village, na rua Bleeker número cinco. Não era mentira da revista que o Bianca tem a melhor lasanha do mundo, fato confirmado pela Tati porque eu, como sempre, pedi um prato pior que o dela. Não me entenda mal, meu linguini com camarões e repolho estava divino, mas a lasanha do Bianca é algo realmente memorável. Só para tentar pedir o vinho certo, escolhemos um Chianti muito suspeito e que provavelmente já estava passado do ponto. Funcionou do mesmo jeito e fez com que nos sentimos os verdadeiros nova-iorquinos, saindo do restaurante e chamando um táxi na chuva para voltarmos para o hotel. Fim do dia 12, um dia que só não foi mais devagar que o dia 13, o segundo dia de chuva.
Acordamos, como todos os dias, graças a Deus, e fomos para o breakfast, como todos os dias, graças ao Andrew´s. Mais uma refeição leve com ovos e bacon e estávamos prontos para o dia. Voltamos na Macy´s pela terceira vez, pois faltavam algumas comprinhas para a família. Não fizemos muito neste dia além de andar um pouco por perto do hotel e entrarmos em um shopping muito sem vergonha chamado Manhattan Mall. A única curiosidade do passeio foi que encontrei neste shopping dois minis de uma concessionária local com a descrição do carro indicando o Brasil como produtor do motor. Tirei uma foto para mostrar aos colegas da Tritec a qual provavelmente nunca será mostrada. Hotel, previsão do tempo, banho e a chuva parou. Já era noite quando saímos andando do hotel até a Broadway, subindo a sétima avenida até a Times Square e entrando à esquerda na 34 até o teatro Majestic. Tínhamos comprado os ingressos para o Fantasma da Ópera aqui do Brasil, com muito tempo de antecedência e graças a isto ficamos em um lugar ótimo na platéia. O teatro é pequeno e o palco também. Difícil de acreditar que cabem tantos cenários diferentes e tão cheios de detalhes. O show é espetacular não somente pelos cenários, mas pela qualidade das interpretações, das músicas e da história. Memorável mesmo que muito mal descrito nestas memórias. Caso não tenha percebido, este texto começou como diário, virou transcrição de gravações e agora já está na categoria de memórias, pois nem gravações as temos mais, desde o dia doze, ontem se isto ainda fosse um diário.
Ao sair do teatro a chuva estava de volta, sem a menor consideração pelos turistas, que se a tivesse Nova Iorque estaria em seca eterna, pois eternos são os turistas naquela cidade. Atravessamos a rua correndo e entramos no John´s, uma pizzaria que ocupa um antigo teatro da Broadway. A pizza é realmente muito boa e curiosamente utilizada apenas como acompanhamento dos outros pratos do restaurante pelo povo local. Para nós foi o prato principal, devidamente acompanhado de um zinfandel rose da Sutter Home, provavelmente da Califórnia.
Agora já estamos no dia 14, o último dia inteiro em Nova Iorque. Ainda estava chovendo, mas como a viagem estava acabando resolvemos pegar um táxi para conhecer a ponte do Brooklin, que na minha opinião é um dos pontos mais bonitos da cidade. Como a chuva não estava tão forte, resolvemos saltar do táxi e andar o pouco que faltava até a ponte. Péssima idéia. Enquanto andávamos em direção à ponte a chuva ia aumentando, o vento também e somada aos dois a teimosia, continuamos andando. Agora já na ponte tiramos duas fotos desesperadas, tentamos nos esconder do vento, coisa difícil de se fazer no meio de uma ponte, que por mais famosa que seja continua sendo o que é, uma estrutura metálica sem cobertura de nenhum tipo. Voltamos o mais rápido que pudemos e no meio do caminho da volta, para ficar tudo mais simples, minha sombrinha quebrou. Na verdade ela se despedaçou e eu terminei de me encharcar, não que a Tati, por estar com a sombrinha inteira não tenha se encharcado também.
Tivemos que desistir do passeio no sul da ilha e voltamos para o hotel tomar banho e trocar de roupas. Fomos para o que vinha sendo nossa salvação do mau tempo, mais um museu. Desta vez entramos para conhecer o Gugenheim, ao invés de só tirar fotos. Antes de entrar comemos o tradicional cachorro quente e a Tati me fez comprar um guarda-chuva novo, depois de muita relutância. Estava tendo uma exposição de arte russa de todas as épocas, além da mostra regular do museu, com seus Picassos, Van Ghogs entre outros. O museu é pequeno e em poucas horas se pode ver tudo sem cansar muito. Deu para esquecer do banho da manhã. Saindo do museu, a chuva já dava sinais de trégua, mesmo assim pegamos um táxi, o trauma foi grande.
Descemos na Times Square e fomos até o teatro Ambassador, pois havíamos decidido ver mais uma peça da Broadway, desta vez Chicago. Compramos os ingressos, andamos um pouco, entramos na loja da Hershey´s donde saímos com sacolas de chocolate e fomos relaxar no Hard Rock Café. Nossa idéia era ficar por lá até a hora do show, mas como ainda estava muito cedo, voltamos para o hotel, nos arrumamos e fomos ver a peça. No geral a peça é tão boa quanto o Fantasma da Ópera, mas como a banda fazia parte da peça e a atriz principal era a Brooke Shields, acho que gostei mais de Chicago. Depois da peça, sem chuva, fomos dar o melhor passeio de todos os noturnos, na Times Square. Andamos bastante por lá até tarde e entramos em uma lanchonete donde podíamos ver um telão que passava o show do David Letterman que tínhamos participado.
Último dia, sete da manhã estávamos na rua. A chuva finalmente chegou à conclusão que não tinha mais nada seco em Nova Iorque e foi embora. Andamos até o primeiro Starbucks no caminho da quinta avenida, o último da viagem, tomamos o café da manhã e continuamos descendo a avenida na direção sul. Quando a quinta avenida se encontra com a Broadway, que passa do lado oeste para o leste da ilha, encontramos o famoso edifício Flatiron. A esta altura o cartãozinho de memória da máquina já estava lotado, mas ainda agüentava o último dia.
Na altura do Village passamos pela Washington Square, com aquela réplica do arco do triunfo famosa. Como ainda era muito cedo, a praça estava tranqüila o suficiente para podermos curti-la sem pressa. Saímos de lá para leste à procura de Chinatown e Little Italy, só para tirar umas fotos. Passamos por estes bairros rapidamente, olhamos de longe a ponte do Brooklin e voltamos para o lado da Broadway pois queríamos ver o Ground Zero. No caminho passamos pela prefeitura e alguns prédios do centro financeiro.
Não tem como chegar no Ground Zero sem se emocionar. Só de imaginar tudo o que aconteceu ali, quantas pessoas morreram e como a história do mundo mudou depois daquele dia, vêm lágrimas aos olhos, sem exageros. A impressão que dá é que nada está acontecendo por lá, a não ser a limpeza do local que parece que vai durar para sempre. Acho que os nova-iorquinos não estão prontos para esquecer. Continuando a descida rumo ao Battery Park, passamos pela igreja Trinity e por Wall Street. Estávamos lá na semana em que os pregões da bolsa de Nova Iorque se encerraram da maneira tradicional. Agora, só pregão eletrônico. Depois de umas três horas de caminhada, desde que saímos do hotel bem cedinho, chegamos ao extremo sul da ilha. Como faltava pouco para a hora limite para o checkout do hotel, compramos ingressos para o passeio até a Estátua da Liberdade e pegamos um táxi até o hotel. Fizemos o checkout, largamos a mala na sala de bagagens do hotel, almoçamos ali por perto e voltamos para pegar o barquinho.
Só posso dizer que foi a maneira perfeita de acabar a viagem, conhecendo o símbolo mais famoso da cidade, a Estátua da Liberdade. Ela é grande, verde, simpática e o melhor, guarda uma vista perfeita de uma cidade única e grandiosa. É uma vista nostálgica, que combina perfeitamente com final de viagem e já dá a sensação de saudades, sem ainda termos ido embora. Impossível não se sentir uma pessoa diferente tendo estado em Nova Iorque, tão obrigatória quanto qualquer disco do U2, quanto a tristeza cinza e metálica do WTC caído, quanto a chuva que deu um tempero diferente a estes sete dias, parte turísticos, parte aventureiros, parte românticos e sem dúvida nenhuma espetaculares. Será que já temos milhas suficiente para voltar?
terça-feira, 11 de setembro de 2007
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